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Meditação

Sinais, avisos e exemplos

Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. Respondeu-lhes:« Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido?
Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.»
Disse-lhes, também, a seguinte parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?’ Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.’» (Lucas 13, 1-9 - Leitura do Evangelho de 7.3.2010, 3.º Domingo da Quaresma)

Haverá algum desastre sem que Yahvé seja o autor? (cf. Amós 3, 6b). Cai um avião e leva para a morte todos os passageiros e tripulantes; uma bomba explode num mercado atingindo indistintamente todas as pessoas, civis ou militares. A actualidade mostra-nos estes acontecimentos tão frequentemente que não lhes prestamos mais do que uma atenção distraída; são «faits divers».

ImagemTorre de Siloé (James Tissot)

No entanto eles levantam algumas perguntas: por que é que estes casos ocorrem? Por que motivo são atingidas essas pessoas e não outras? A resposta simplista seria afirmar que as vítimas deveriam ser culpadas de alguma coisa e que por isso recebem um justo castigo. Contudo a experiência mostra bem que esta explicação não se sustém. Será então que a tragédia sucede ao acaso? Em última análise, esta conclusão equivaleria a admitir que a história não tem qualquer sentido e que o destino dos humanos depende unicamente do vaivém das forças contingentes. Para um crente, esta posição é inaceitável. O mundo não é um caos mas um cosmos: “Pelas palavras do Senhor foram realizadas as suas obras e segundo a sua vontade realizou-se o seu decreto” (Ben Sira 42, 15b).

ImagemFigueira estéril (James Tissot)

Não se sabe qual a intenção dos interlocutores de Jesus quando lhe contaram o incidente que envolveu os Galileus. Quereriam provocar o ser fervor nacionalista e levá-lo a decidir-se pela instauração de um movimento de revolta? Avisá-lo contra um perigo? Ou será que a notícia continha uma questão implícita, como a reacção de Jesus parece supor? Lucas deixa na sombra este aspecto, o mesmo acontecendo à forma como as palavras de Jesus foram recebidas. Mas é provável que a reacção de Jesus não tenha sido a desejada pelas pessoas que haviam acabado de lhe dar a notícia.

 

Perecereis todos igualmente (v. 3; cf. v. 5)

Jesus não quer conduzir a discussão para o terreno político. O exemplo das vítimas da queda de uma torre – acontecimento aparentemente acidental – mostra-o bem. Também não quer exprimir um julgamento sobre as vítimas desses desastres. Admitir que elas tinham merecido aquela sorte deixaria subentendido que todos as que são poupadas são intocáveis. Ainda que Jesus nunca tenha lido as cartas de Paulo, certamente estaria de acordo com esta afirmação: “todos pecaram e estão privados da glória de Deus” (Romanos 3, 23).

Para Jesus, estes acontecimentos não são punições pessoais mas apelos à conversão. Sim, o mal e o sofrimento existem e é verdade que são consequência do pecado. Porém Deus não quer a morte do pecador mas a sua conversão: “Eu não me comprazo com a morte de quem quer que seja - oráculo do Senhor Deus. Convertei-vos e vivei” (Ezequiel 18, 32). Dito de outra forma, a infelicidade que atingiu estas pessoas poderia ter envolvido quaisquer outras dado que ninguém é perfeitamente justo diante de Deus. O que sucedeu deveria levar quem continua vivo a mudar o seu coração; com efeito, “estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais” (Lucas 12, 40). Não se trata de uma ameaça mas de um aviso.

 

Se der frutos na próxima estação, ficará (v. 9)

Alguns pensam que Deus é demasiado apressado a fazer justiça e que abate pessoas ao acaso para dar o exemplo (cf. vv. 1-5). Outros, pelo contrário, acusam-no de tardar na manifestação do seu poder e no julgamento dos ímpios. A estes, Jesus propõe a parábola da figueira (vv. 7-9). A comparação da árvore ou da planta que dá fruto é recorrente em Jesus (cf. Lucas 8, 5-7.11-15; João 15, 16-17). Ela ilustra a fecundidade da Palavra na vida dos crentes. Mas o que fazer se a semente não evolui ou quando a planta permanece estéril? Deverá ser eliminada (cf. Mateus 21, 18-19)?

Nesta parábola o agricultor evoca Moisés, quando este intercedeu pelo povo infiel: “Senhor Deus, não destruas o teu povo, a tua herança que salvaste com a tua grandeza e tiraste do Egipto com a tua mão poderosa” (Deuteronómio 9, 26). Na Nova Aliança, é Cristo quem intercede perante Deusi: “se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo (1 João 2, 1b).

A demora da Parusia (segunda e última vinda de Jesus no fim dos tempos) perturbou os fiéis das primeiras gerações cristãs. Se Cristo ressuscitou e o mundo novo já começou, como se explica que o mundo antigo se prolongue? A parábola da figueira explica esta espera pela misericórdia de Deus, ele que é um “Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e de fidelidade” (Êxodo 34, 6). A segunda carta de Pedro exprime em linguagem clara a mensagem da parábola: “Não é que o Senhor tarde em cumprir a sua promessa, como alguns pensam, mas simplesmente usa de paciência para convosco, pois não quer que ninguém pereça, mas que todos se convertam” (2 Pedro 3, 9).

Os acontecimentos considerados do ponto de vista da fé podem tornar-se apelos a uma melhor vivência da Palavra de Deus. O presente é o tempo em que se constrói o Reino; cada um deve estar atento e discernir os seus sinais (cf. Lucas 12, 54-56).

 

O Senhor... enviou-me a vós (Êxodo 3, 15)

Antes de Abraão, os deuses eram associados a lugares precisos, muitas vezes em relação com um fenómeno natural ou com um local, como uma montanha. Nos seus trajectos, o caminhante deveria pedir os favores das divindades locais. A Abraão, Deus promete assistência ao longo de toda a estrada; a divindade deixou de estar ligada a um lugar e passou a implicar uma pessoa. Ele será o Deus de Abraão e, depois, de Isaac e de jacob (cf. v. 15). Com Moisés é ultrapassada uma nova etapa. Deus dá-se a conhecer pelo seu nome (chama-se Yahvé, palavra derivada da raiz do verbo “ser” em hebraico) mas também pelo anúncio do seu projecto de salvação: “Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos” (v. 7).

 

A sua história deve servir de exemplo (1 Coríntios 10, 11)

Paulo continua a história do êxodo, detendo-se na caminhada no deserto. Vê neste percurso uma antecipação do mistério pascal cristão. A palavra traduzida por “exemplo” (vv. 6 e 11) designa o que poderíamos denominar como um protótipo ou modelo. Desta leitura, Paulo destaca duas aplicações. Na ordem sacramental, a passagem do mar anuncia o Baptismo (v. 2), enquanto que o alimento e a água saída do rochedo são sinais da Eucaristia (vv. 3-4). No domínio moral, as infidelidades dos israelitas servem de aviso às futuras gerações de crentes, que devem renovar o seu compromisso com o Senhor, sob pena de verem concretizar-se a advertência de Jesus: “se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma” (Lucas 13, 5).

 

P. Jérôme Longtin
In Interbible
Trad.: rm
06.03.10










































































































































































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