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Catolicismo e Liberalismo em Portugal (1820-1850)

Foram recentemente apresentadas na Universidade Católica Portuguesa (UCP), no Porto, as obras «Catolicismo e Liberalismo em Portugal (1820-1850)» e «O Pensamento Luso-Galaico-Brasileiro (1850-2000)», que contém as Actas do Congresso Internacional sobre o tema, totalizando mais de 2200 páginas em três volumes.

Os estudos agora editados pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda reflectem a acção do Centro de Estudos do Pensamento Português, sediado no Centro Regional do Porto da UCP.

O livro «Catolicismo e Liberalismo em Portugal (1820-1850)» será seguido de outro volume, intitulado «Catolicismo, Tradição e Progresso na Segunda Metade de Oitocentos (1850-1910)», já em curso. Os dois trabalhos abrangem um “século de revoluções que acabou com o velho regímen, instituindo um tempo de laicidade, por vezes de laicismo, a separação da Igreja do Estado”.

 

Prefácio

A Ilustração herdara todo um conjunto de críticas provenientes dum mundo que perdera os absolutos religiosos como fundamento e que desviara o centro de gravidade do pensamento e da acção, colocando a razão onde outrora estivera a autoridade e a religião, ou melhor dito, a Igreja Católica. Inaugurava-se a idade da crítica: nem a religião pela sua santidade nem a política por sua majestade podiam escapar a esta exigência, sob pena de se privarem do respeito que lhes era devido, como sentenciava Kant e o espírito do tempo, no prólogo da primeira edição da Crítica da Razão Pura.

O liberalismo em Portugal nascido no Porto em 1820 vinha carregado deste espírito, e é neste marco que o presente estudo encara este embate. Todavia numa tríplice abordagem: a histórica, a filosófica e a teológica.

Os estudos históricos, nomeadamente os da história das ideias, já são numerosos e importantes, mas esta tríplice abordagem ajudará a compreender, decerto ainda não de modo definitivo, não apenas o processo interno da filosofia da Ilustração mas também o processo interno da evolução do próprio catolicismo, que estudos excessivamente apologéticos de um e outro lado não raro escamoteiam.

De facto, os processos internos, sendo essencialmente históricos, escapam senão totalmente, pelo menos em parte, ao esquematismo da crítica e da apologética que foram, na época, o caminho mais seguido, revestindo o carácter de alternativas abstractas. Na época compreende-se e era quase inevitável a apresentação destas duas alternativas em jogo. A isso obrigava a força do embate, os interesses em jogo, as dificuldades do discernimento, a incompreensão do investimento noutros campos.

Hoje é mais fácil distinguir aquilo que chamaríamos a estrutura do processo e as suas diversas saídas.

A estrutura do processo tem o seu núcleo entre o velho regímen católico-monárquico e novo monárquico-liberal e é atravessada pela ideia de autonomia dos dois espaços que se vai acentuando. As saídas desta confrontação são diversas no campo filosófico e teológico e mesmo no campo político.

Se de facto se pode surpreender em alguns conventos e bispos como Frei Fortunato de São Boaventura posturas quase extremas, encontramos no cardeal Saraiva uma compreensão mais que irénica, bem fundamentada, da boa convivência entre catolicismo e liberalismo. Para mais, a religião dos ilustrados e a sua acção tinham também cambiantes em Portugal, como na Europa, muito diversificados.

Por outro lado, tanto no domínio do pensamento como no domínio da acção, a estrutura antitética entre o catolicismo e as Luzes levará a uma renovação dos dois campos e não à vitória completa dum sobre o outro, como alguns estudos demonstrarão. E no domínio da acção cabe aqui fazer uma referência ao nascimento do pensamento social católico que desabrochara na segunda metade do século e representará um dos mais importantes factores, até bem mais tarde, da renovação das ideias e das práticas sociais.

Seria justo considerar que os pensadores da época, nomeadamente mestres pensadores como Kant, pretendiam destruir na época a religião? Entre nós, seria justo pensar tal coisa acerca dum Herculano? A nosso ver, os grandes espíritos da época não dirigiam o seu pensamento contra a Igreja. Pretendiam apenas crer e viver sem renunciar às conquistas da nova liberdade e da nova ciência. É pelo menos a opinião dum pensador tão pouco complacente com as derivas naturalistas como Karl Barth na sua obra sobre a teologia protestante no século XIX, saída em Zurique em 1960.

Todavia, a busca dum cristianismo meramente natural, expurgado de dogmas, e os problemas-derivas da proposta duma Revelação, vão ser, também eles, objecto de duras controvérsias.

Trazendo para a história das ideias estes debates com o concurso da Teologia e da Filosofia, contribuirá certamente este volume e os próximos trabalhos abrangidos por este projecto de investigação, para uma melhor compreensão e projecção do catolicismo português nos debates da nossa sociedade.

 

Índice

1 – A relação Catolicismo-Liberalismo na perspectiva da História

A Igreja Católica e a política do liberalismo. Para uma explicação do cisma religioso
António do Carmo Reis

Catolicismo e tradicionalismo face ao liberalismo e ao maçonismo (1820-1850)
J. Pinharanda Gomes

Uma economia política eminentemente moral que a religião aprove: liberalismo e catolicismo em Portugal (1820-1850)
António Almodôvar

2 – A relação Catolicismo-Liberalismo na perspectiva da Filosofia

Cultura filosófica em Portugal na primeira metade do século XIX
José Esteves Pereira

Ecos do pensamento socialista em Portugal na primeira metade do século XIX
António Pedro Mesquita

Liberalismo e cristianismo em Alexandre Herculano
José Gama

As letras no período da revolução liberal (Almeida Garrett)
A revolução de 1820 e a filosofia criacionista da liberdade
Ângelo Alves

Estado e Igreja em «O Novo Príncipe...», de José da Gama e Castro (1795-1873)
Paulo Ferreira da Cunha

Missionarismo do interior e doutrinação contra-revolucionária. D. Frei José da Assunção (O.F.M., Varatojo), bispo de Lamego
Pedro Vilas Boas Tavares

3 – A relação Catolicismo-Liberalismo na perspectiva da Teologia

Portugal no contexto eclesial europeu, por alturas de 1820 a 1850
Arnaldo de Pinho

A teoria regalista em «Doctrina Veteris Ecclesiae de Suprema Regum», de António Pereira de Figueiredo
Manuel de Pinho Ferreira

O cardeal Saraiva e a relação catolicismo-liberalismo
Afonso Rocha

Frei Fortunato de São Boaventura, O.C. (1777-1844). Arcebispo de Évora, absolutista e defensor da tradição pátria
Geraldo Coelho Dias

Os franciscanos portugueses e o liberalismo. Folhas caídas no claustro da esperança
Vítor Gomes Teixeira

A pastoral de D. Frei Fortunato de São Boaventura. Aspectos do pensamento contra-revolucionário português no século XIX
Pedro de Abreu Peixoto

 

Arnaldo Pinho (Introdução)
In Catolicismo e Liberalismo em Portugal (1820-1850), ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda
16.11.09

Capa

Catolicismo e Liberalismo
em Portugal (1820-1850)

Autor
AA.VV.

Editora
Imprensa Nacional
- Casa da Moeda

Ano
2009

Páginas
798

Preço
€ 39,67

ISBN
978-972-27-1698-7









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