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História, cultura e arte

Uma visita à Igreja e ao Museu de São Roque

O Museu de São Roque está instalado no espaço da antiga casa professa da Companhia de Jesus em Lisboa, edifício adjacente à Igreja de São Roque.

Aberto ao público em 1905 com a designação de Museu do Thesouro da Capela de São João Baptista, em evocação da importante colecção de arte italiana setecentista que está na origem da sua criação, foi sendo objecto de várias intervenções ao longo do século XX, acompanhando as mudanças operadas nos domínios da
museologia e da museografia

Entre 2006 e 2008, esteve encerrado para obras de requalificação, projecto co-financiado pelo Programa Operacional da Cultura (POC), que surgiu da vontade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em requalificar
o seu património.

 

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Reaberto ao público a 20 de Dezembro de 2008, o Museu de São Roque apresenta agora uma área mais alargada, o que permitiu diversificar o acervo exposto e criar novas acessibilidades.

Neste contexto, instalaram-se estruturas de apoio, como espaço de loja e restaurante/cafetaria, facilitou-se o acesso a visitantes com mobilidade condicionada e criaram-se novos auxiliares de leitura, complementados por meios audiovisuais e multimédia, possibilitando-se, desta forma, uma melhor observação e interpretação do acervo exposto.

 

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Museu de São Roque

 

Em consonância com o projecto de arquitectura, foi concebido para o claustro um projecto paisagista, que se desenvolve em torno de um espelho de água central circundado por elementos vegetalistas de origem oriental, solução que confere ao espaço museológico uma forte carga simbólica por aludir à presença portuguesa no Oriente.

 

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Museu de São Roque

 

O Museu de São Roque, pela riqueza e diversidade do seu acervo, constitui um centro por excelência de divulgação e de dinamização cultural, reunindo condições para dar um contributo fundamental para o conhecimento da arte sacra nacional e internacional. Grande parte do acervo que conserva tem a particularidade de não ter sido desagregado do monumento que lhe esteve na origem - a igreja e antiga casa professa dos jesuítas em Lisboa - património que beneficiou do facto de ter sido entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por doação régia de D. José I, em 1768.

 

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Assim, foi protegido da espoliação que afectou muitos dos conventos e casas religiosas portuguesas no século XIX, do que resultaria a disseminação de grande parte do património artístico religioso nacional. Deste conjunto de circunstâncias resultou a constituição de uma série de colecções bastante representativas no campo da arte portuguesa, europeia e luso-oriental, cuja abrangência, artística e tipológica, acompanha a evolução da história da arte religiosa em Portugal entre os séculos XVI e XX.

 

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Museu de São Roque

 

Integram o acervo da Companhia de Jesus colecções de que se afirmam como testemunhos da vivência desta ordem religiosa durante cerca de dois séculos na igreja e casa professa de São Roque. Deste espólio assume particular expressão a colecção de relíquias, cujo valor espiritual é de importância fulcral para o conhecimento da História Religiosa em Portugal.

 

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Na sequência de várias ofertas à igreja de São Roque, o conjunto de relíquias vai crescendo, acompanhando a elevação da igreja de São Roque, até que em 1587 se dá a extraordinária doação de D. João de Borja, nobre valenciano, filho do jesuíta Francisco de Borja, que esteve como embaixador de Filipe II de Espanha
na corte de Rudolfo II da Saxónia, em Praga. Este legado caracterizaria para sempre o santuário de São Roque. Efectivamente, deve-se à Companhia de Jesus o grande incremento dado ao culto das relíquias em Portugal, o que estimulou a concepção de faustosos relicários para as protegerem, executados nos mais nobres materiais, como o ouro, a prata, as pedras preciosas e madeiras exóticas, e nas mais diversas tipologias como bustos, braços, custódias, caixas, âmbolas, pendentes, entre outras.

 

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Museu de São Roque

 

Ocupa também uma posição de relevo a colecção de Arte Oriental, resultante da acção missionária da Companhia de Jesus por terras de além-mar, com reflexos inevitáveis no plano da arte sacra, tal como testemunha a colecção de objectos executados em materiais como o marfim, a tartaruga a madrepérola, as porcelanas e as lacas, originários das regiões da Índia, Próximo Oriente, China e Japão.

 

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De registar ainda a importância da colecção de pintura, conjunto de valor incalculável em que se encontram representados importantes “pintores régios”, através da qual podemos acompanhar a evolução desta manifestação artística no contexto da Arte Portuguesa, essencialmente entre o século XVI e XVIII. As obras de pintura que constituem o acervo do museu incidem sobre significativos conjuntos oriundos da Irmandade de São Roque, antiga sede da Misericórdia de Lisboa, Companhia de Jesus, bem como de legados de benfeitores e algumas aquisições feitas pela Instituição.

 

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Museu de São Roque

 

Igualmente no que toca à imaginária escultórica e à ourivesaria, tem o museu e igreja de São Roque a virtude de poder facultar ao visitante um percurso que vai do século XVI ao XX. Em suma, este diversificado acervo integra obras quer do período da presença dos jesuítas na antiga casa professa de São Roque, quer do período da consequente instalação da Santa Casa neste conjunto patrimonial, incorporadas por via de benemerências ou por aquisições.

 

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Foto: Lisboa SOS

 

Do conjunto de obras expostas, sobressai, pelo seu carácter de excepção, o Tesouro da Capela d São João Baptista, relevante testemunho da arte italiana de Setecentos. Impondo-se como obra prima da arte italiana, a sua colecção de ourivesaria é definida por Jennifer Montagu como o culminar da arte barroca do ouro e da prata, que atinge aqui um aperfeiçoamento jamais alcançado. Testemunho de uma fase final da presença jesuítica no edifício da igreja e casa professa de São Roque, este Tesouro, sem paralelo nem na própria Itália, impõe-se como uma obra de referência incontornável por integrar “um dos mais importantes museus de arte decorativa italiana da época”, estando, por isso, na origem da própria criação do Museu de São Roque e, assumindo, como tal, uma importância fulcral ao longo do seu percurso como espaço museológico.

 

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Museu de São Roque

 

Entendendo as áreas do museu e igreja como um todo, o espaço organiza-se fisicamente em duas áreas de visita: a igreja, como parte integrante do percurso museológico, e o museu, com uma zona de acolhimento e cinco núcleos expositivos que, estruturados segundo uma articulação temática e de acordo com uma lógica cronológica, envolvem o antigo claustro jesuítico. No piso térreo apresentam-se dois núcleos, um primeiro dedicado à Ermida de São Roque, da qual nos chegaram, entre outros valiosos testemunhos, as quatro tábuas quinhentistas alusivas à “ Vida e Lenda de São Roque”, provenientes do seu primitivo retábulo - peças que pelas suas características estilísticas e pela capacidade narrativa que encerram se assumem como uma referência incontornável para o estudo da pintura primitiva portuguesa.

 

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Museu de São Roque

 

O segundo conduz-nos à implantação da Companhia de Jesus em Portugal, em 1540, e ao consequente programa de renovação estética que as novas regras da liturgia contra-reformista impunham. Como testemunho da vivência desta ordem religiosa neste local, do século XVI ao século XVIII, o núcleo da Companhia de Jesus ocupa grande parte da área museológica, encontrando-se, como tal, estruturado em áreas temáticas distintas, onde se evidenciam, ao nível do primeiro piso, os temas da «Iconografia da Ordem e Principais Devoções», a «Devoção às relíquias» e «Objectos de uso Litúrgico e de Ornamentação da Igreja». Seguem-se, no segundo piso, os sub-núcleos dedicados à «Devoção a Cristo - Paixão e Glorificação», «A encarnação de Cristo e o culto à Virgem» (22) e a «Devoção a Cristo - Natividade e Infância», área que conflui com o núcleo de Arte Oriental, cuja colecção resulta da acção da Companhia de Jesus no padroado português do Oriente e que é pela primeira vez exibida em exposição permanente.

 

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Museu de São Roque

 

A última fase de vivência da Companhia de Jesus neste espaço é marcada com o exuberante núcleo do Tesouro da Capela de São João Baptista onde se apresenta uma das mais importantes realizações de arte tardo-barroca romana em Portugal. Este núcleo surge agora com uma filosofia de apresentação totalmente renovada, proporcionando um olhar sobre a globalidade da colecção de paramentaria italiana - entendida como um produto que representa o expoente máximo da indumentária litúrgica italiana do século XVIII - agora exposta em sistema de rotatividade.

 

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Foto: Lisboa SOS

 

No que respeita aos metais, são de salientar as intervenções de conservação realizadas, que vieram clarificar as sua leitura, possibilitando um novo olhar sobre as aprimoradas técnicas de ourivesaria da Roma setecentista,
denunciadoras da mestria e desenvoltura dos mais qualificados ourives da Europa de então.

Por fim, apresenta-se o núcleo dedicado à História e Património da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que pretende dar a conhecer a História da Instituição, expressa em objectos de incontestável valor histórico e artístico. A acção benemérita da Instituição encontra-se também representada neste núcleo através de uma selecção de peças doadas em vida, ou de legados em testamento à Instituição, ou ainda incorporadas por via de aquisições.

 

Teresa de Freitas Morna
Conservadora do Museu de São Roque
05.12.10

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Foto in Guia da Cidade

 

 

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