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Exposição

«Portugal Eternel» entusiasmou público francês: exposição foi visitada por 110 mil pessoas

Após quatro meses de intensa actividade, a exposição “Portugal Eternel – Patrimoine de la Région de l’Alentejo” concluiu a sua presença em Lyon, no Musée d’Art Religieux, paredes-meias com a basílica de Notre-Dame de Fourvière, no passado 3 de Janeiro.

Visitas guiadas, palestras, sessões de acolhimento, jantares temáticos, encontros com os professores e alunos de português da Université Lumière, o pólo II da universidade pública de Lyon, um congresso do Comité de Indumentária do Conselho Internacional dos Monumentos (ICOM), tudo isto deu vida a uma iniciativa que despertou profundo interesse em França e galvanizou a comunidade portuguesa da região.

No período em que a exposição permaneceu em Lyon contou com cerca de 110 mil visitantes. Durante as últimas semanas do período de apresentação ao público, como é habitual nos grandes museus europeus, a pressão intensificou-se. Apesar do frio e da neve, o número dos interessados em conhecer “Portugal Eternel” não abrandou nos derradeiros dias. Foi tal a afluência de visitantes à recepção do museu que os seus responsáveis alargaram o horário de abertura, prolongando-o pela noite fora, de modo a não desapontar ninguém.

Segundo Bernard Berthod, conservador do Musée de Fourvière, o público lionês é exigente, mas informado. Ou seja, selecciona o que há para visitar, a partir dos elementos disponíveis na imprensa e – cada vez mais – na internet, organizando depois o seu tempo livre para ir ao encontro do que mais lhe interessa. “Portugal Eternel” caiu no goto da cidade e teve larga divulgação, dos cartazes no Metro até programas específicos na rádio e na televisão. A cadeia Euronews, sediada em Lyon, desempenhou aqui um papel importante. Os jornais e revistas, com destaque para o diário de maior tiragem “Le Progrès”, dedicaram sucessivas páginas à exposição. Depois, como em todo o lado, funcionou a divulgação boca a boca.

Imagem“Jacob e o Anjo”, por António Paizana (1996)

Mons. Philippe Barbarin, cardeal arcebispo de Lyon e primaz das Gálias, deu o tiro de partida logo na inauguração, ao desafiar os lioneses a visitarem uma exposição que, como fez questão de repetir, mostra a importância da arte como factor de mediação entre povos, culturas e religiões. O cardeal Barbarin sabe do que fala: nascido em Rabat (Marrocos), em 1950, e habituado ao diálogo com as gentes mais diversas, conhece bem Portugal, que costumava visitar com os seus pais, ainda jovem, nas férias escolares. Intelectual respeitado, é uma das figuras mais ouvidas, em questões religiosas, no país. As suas palavras contribuíram para gerar uma onda de entusiasmo.

 

Presença portuguesa desperta entusiasmo em França

Uma das conclusões que se pode tirar deste movimento reside no facto de que o Alentejo gera, em França, verdadeira paixão. Há aqui o reflexo de uma nostalgia pelos grandes espaços e pela autenticidade de uma cultura ainda fiel às suas raízes. Numa Europa urbanizada, profundamente transformada pela mão humana, a liberdade das lonjuras alentejanas representa um poderoso factor de atracção. Mas há mais. Para os olhos de um observador dos países frios, a nossa arte apresenta encantos inesperados. O uso de cores fortes, o apego ao ouro e à prata ou o contacto com civilizações de outros continentes, por exemplo. Ou uma vivência religiosa, intensamente assumida ao nível colectivo, que contrasta com a frieza racional de outras áreas europeias.

Imagem“Santa Bárbara”, por António Ferreira. Século XVIII. Barro policromado

“A arte alentejana desperta, em França, um interesse que vai dos meios académicos ao grande público”, salienta José António Falcão, director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, entidade responsável pela iniciativa, em parceria com o Musée d’Art Religieux. “Há o gosto de fruir olhar todas e cada uma das peças, explorando-lhes os pormenores, captando a mensagem de fundo, valorizando as diferenças”, assinala este investigador. Não só franceses, embora estes constituíssem a maioria. Em Fourvière estiveram muitos suíços e italianos – Lyon está perto destes países –, mas também alemães, espanhóis, gregos, japoneses... Com uma média anual de um milhão e meio de visitantes, entre peregrinos e turistas, Fourvière constitui um alvo preferencial da cidade.

Para a comunidade nacional que reside no “Grand Lyon”, a exposição foi uma festa. Aos fins-de-semana e feriados era frequente verem-se famílias de portugueses ou – mais ainda – de luso-franceses a visitarem a exposição. Entre eles destacam-se os que trabalham nas zonas de serviços de Écully, nas indústrias periféricas de Lyon e nas explorações agrícolas de Clermont-Ferrand. Gente que está bem na vida e se orgulha do seu país, dando força a uma intensa actividade associativa. Tanto a Federação das Associações Portuguesas como o Consulado-Geral em Lyon acompanharam de perto a exposição, ajudando a fazer dela uma grande manifestação da cultura portuguesa.

Imagem"Cristo e os apóstolos", Escola Flamenga, séc. XVI

 

Tesouros desconhecidos

A exposição permitiu a apresentação de peças praticamente desconhecidas mesmo em Portugal. Caso paradigmático é o da “Cabeça Degolada de S. João Baptista”, do antigo convento da Conceição, de Beja – uma escultura em tamanho natural de madeira, sobre uma bandeja de prata. Após o falecimento da última religiosa, em 1892, esta e muitas outras obras do espólio conventual transitaram para a Mitra, sendo expostas no Museu Episcopal.

Com a nacionalização dos bens da Igreja pela I República, tais peças ficaram na posse do Estado, integrando os fundos do futuro Museu Regional. Quando o governo, ao abrigo da Concordata de 1940, entregou à Diocese o património que lhe pertencia, a impressionante cabeça permaneceu neste museu, enquanto o prato ficou destinado à catedral. Só agora voltam a ser reunidos, o que é também um exemplo de colaboração ao nível local.

FotoBasílica de Notre-Dame de Fourvière

A crítica francesa pôs em destaque os tesouros do Gótico, do Maneirismo e do Barroco dos tesouros eclesiásticos, sublinhando a relevância europeia das igrejas das ordens militares – Santiago, Avis e Hospital (Malta) –, dos conventos e mosteiros e, ainda, de muitas paróquias rurais e urbanas. Foi também sublinhada a presença de importantes obras de arte contemporânea que integram as colecções dos museus diocesanos de Beja, entre as quais a tela “Jacob e o Anjo”, do pintor António Paizana (1994), e a escultura “El Matador”, de Joana Vasconcelos (2007).

Na organização da exposição colaboraram a Agência para o Desenvolvimento do Turismo no Alentejo, o Instituto Camões (Ministério dos Negócios Estrangeiros), o Município de Beja, o Serviço Internacional da Fundação Calouste Gulbenkian e o Turismo de Portugal. A iniciativa decorreu sob o alto patrocínio do Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva.

 

Ana Santos
Fotografia: Sofia Perestrelo, Museu Regional de Beja, Bernard Gouttenoir
03.01.10

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