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Já chegou "A Bíblia para todos"

O projecto nasceu há 40 anos, demorou 20 a ser traduzido por católicos e evangélicos, e outros 10 de revisão. “A Bíblia para Todos”, ontem lançada, apresenta-se numa edição traduzida sem indicação de capítulos, versículos e notas explicativas. Mas dentro de dois meses, a mesma edição será enriquecida com capítulos, versículos, introduções e notas críticas.

Durante a sessão de apresentação, o escritor Francisco José Viegas referiu que a Bíblia não é, ao contrário do que se disse nos últimos dias (em referência às declarações de José Saramago) um "manual de costumes, não é um manifesto para mudar o mundo, não é um repositório de observações sobre política e sexualidade”.

"Há um conforto que vem da inquietação" que a leitura do texto bíblico provoca, explicou. E a leitura deve levar o leitor a perder-se. A leitura da Bíblia, tal como as críticas, é interminável. Por isso seria "confrangedor" remeter o texto para as "velharias da humanidade".

“O mais importante nesta edição é que se trata de um conjunto de narrativas que transitam de um povo errante para uma civilização que ocupou o seu lugar no mapa”, acrescentou.

 

Em entrevista ao SNPC, Tiago Cavaco, protestante baptista, considerou que esta edição promove a aproximação à Bíblia por parte de quem nunca a leu, o que é sempre motivo de alegria. A ausência de notas explicativas pode aumentar as interpretações livres, mas Deus permitiu as eventuais margens de erro. Afastada dos protestos que nos últimos dias se fizeram ouvir a propósito das declarações de José Saramago, ouve-se uma voz que agradece as palavras do Nobel da Literatura.

Qual a importância desta edição para o panorama cultural português?
Creio que ler a Bíblia é um pouco ler todos os livros. Logo, passar ao lado da Bíblia é passar ao lado de todos os outros livros.
Uma edição com estas características, que sobretudo se preocupa em verter o texto de uma maneira acessível a todas as pessoas que, não possuindo cultura religiosa, têm um défice de leitura da Bíblia, é um acontecimento impar e uma ocasião de celebração para todos, para os que crêem e para os que não crêem.

Além da tradução, esta Bíblia traz algo de novo para as Igrejas Evangélicas, ou não acrescenta nada às edições já publicadas, que são mais completas?
Nas Igrejas Evangélicas Protestantes há muitas vezes a ideia de que a Bíblia é um património quase nosso. Por isso, qualquer tradução que a apresente de uma maneira menos usual, como é o caso desta, suscita desconfiança. Por exemplo, uma das coisas mais surpreendentes desta edição, que se deve ao facto de o texto ser corrido, é como a mancha gráfica nos aproxima de qualquer outro livro. Isto traz vantagens fantásticas para quem está habituado a ler, porque através do grafismo tem um relacionamento diferente com a Bíblia.
Ainda que as Igrejas Evangélicas sejam diversas entre si, acredito que elas se satisfaçam sempre que a Bíblia é lida por alguém que ainda não a descobriu. Isso, por si só, já é uma razão de grande alegria e entusiasmo, mesmo que ela apareça subitamente menos sagrada. Mas ao fazer um balanço desta edição, as pessoas ficarão sempre satisfeitas quando se apercebem que a Bíblia está a chegar a mais alguém.

Uma Bíblia sem notas abre a possibilidade de novas interpretações. Esta característica é boa ou má?
Creio que esse é sempre um terreno sensível. Falando pessoalmente, como protestante evangélico baptista, é óbvio que a abertura à individualidade e à leitura subjectiva foi o que permitiu, por exemplo, a existência da minha própria tradição cristã. Por isso creio que é algo muito positivo.
Sabemos que a Bíblia é uma fonte de inspiração, embora também possa ser motivo de equívoco, como em qualquer outro livro. Mas eu estou convicto que Deus permitiu essa margem de erro. Nesse sentido, para quem, como eu, tem preocupações mais ortodoxas, essa é uma margem de erro que pertence a Deus.
Mesmo que as pessoas tirem interpretações que nós consideremos menos canónicas, a aproximação à Palavra é sempre um gesto especial.

José Saramago também se aproxima da Bíblia de uma maneira muito própria...
Eu escrevi no meu blogue que não houve nada melhor do que estas declarações do Prémio Nobel em relação à Bíblia, porque elas estimularam a sua leitura. Sem dúvida que José Saramago é um leitor da Bíblia, com as suas divergências importantes. Mas ele acaba por lhe prestar um serviço, e isso é muito saudável.

 

O P. Joaquim Carreira das Neves, biblista católico, fala da complexidade da tradução e considera que a versão ontem apresentada vai interessar às elites, mas não às massas populares. E deixa a pergunta: será que sem versículos, capítulos e notas, as pessoas vão entender as palavras da Bíblia?

Qual a importância desta edição para o panorama cultural português?
A sua relevância pode dizer-se em termos substanciais e formais.
Em relação aos primeiros, trata-se de uma tradução de peritos católicos e protestantes, que conhecem bem o Grego, o Hebraico e o Aramaico, o que é uma segurança. Temos que utilizar a ciência bíblica que nós conhecemos, não traduzindo de maneira apenas literal, porque não condiz com o leitor de hoje.
A epístola de S. Paulo aos Romanos dividiu católicos e protestantes por causa das palavras “fé” e “obras”. O que é isso de “obras”? O que é isso de “fé”? A dinâmica semântica obriga-nos a um esforço muito grande para que o leitor de hoje entenda o que S. Paulo queria dizer com aqueles termos. Isto é apenas um pequeno exemplo, dos muitos que eu podia dar.
Quanto à parte formal, esta edição não tem capítulos nem versículos, que só apareceram no século XVI. Os monges católicos é que intrometeram esses aditivos e as introduções. Até há poucos anos, as Bíblias evangélicas não tinham aparato crítico. Era só palavra, como se ela caísse do céu. Por isso as introduções são necessárias.
Esta edição, sendo um texto corrido, é importante porque foi assim que a Bíblia foi escrita.
Enquanto que para os católicos a Bíblia está em função da Igreja e da Eucaristia – não há missa sem duas ou três leituras bíblicas – para os nossos irmãos protestantes a palavra vale por si, através de uma leitura imediata e directa. Para os católicos, a Bíblia situa-se em relação à comunidade; para os protestantes, está em função da própria pessoa.

Será que esta edição levará mais pessoas a ler a Bíblia, especialmente as que não têm pertença eclesial?
Esta Bíblia foi publicada à maneira antiga. Daqui a dois meses, vamos ter esta mesma edição com capítulos, versículos, introduções e notas críticas, que vai interessar a muita gente.
Mas será que todos vão entender aquelas palavras? Esse é o meu problema.
Creio que esta edição agradará sobretudo a quem goste de ler, a quem está muito ligado às letras e às artes, crentes ou não crentes que vêem na Bíblia o grande código da humanidade. Haverá muitos interessados, mas serão elites que gostam da Escritura como código de vida individual e em sociedade, e não a massa popular.

 

rm
© SNPC | 21.10.09

A Bíblia para todos




































































































 

 

 

 

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