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Alegria

O humor de Jesus e a alegria de S. Paulo

O humor abre espaço nas nossas vidas à surpresa. Rimo-nos porque, sem esperarmos, uma palavra cheia de graça vem ao nosso encontro. Na verdade, também a Fé não é, de todo, uma experiência previsível, um mapa prévio muito detalhado, mas uma abertura à surpresa de Deus, ao inesperado de Deus que nos convoca... É interessante percebermos, na Bíblia, como estas surpresas costuram o caminho crente. Quando Naaman, general do Rei Arameu vem a Israel e o profeta Eliseu, sucessor de Elias o manda lavar-se sete vezes no insignificante Rio Jordão, ele diz: "Como é que é possível! Eu que tenho tantos rios fantásticos na minha terra vou-me lavar num desprezível riacho lamacento?!" Depois o servo pergunta-lhe: "Se ele te pedisse uma coisa difícil, tu farias?" E ele respondeu: "Ah sim!" . "Então ele pediu-te uma coisa tão simples, e porque é que não a vais fazer?" E no fim, quando ele o fizer, fica curado da lepra (2 Re 5).

O riso e a alegria são a via simples. Quando queremos a via heróica, e ambicionamos projectos extraordinários e artificiosos, o humor, ajuda-nos a compreender que aceitando a simplicidade, o mínimo, aceitando o "rio Jordão da nossa vida" é que somos curados. O máximo no mínimo. O mais no menos.

 

O humor de Jesus

O humor está presente na linguagem e situações de vida de Jesus. Em Lucas 24 temos um exemplo claro. Os dois discípulos de Emaús estão a falar com Jesus, mas não o sabem. E dizem-lhe inclusive: "tu és o único estrangeiro de Jerusalém que desconhece estes factos!". Já se viu maior ironia de situação! Mas um discípulo, um cristão também se constrói pela ironia de Deus. Isto é, pela experiência de que Deus toma aquilo que são as nesses fatalidades, o nosso sem remédio, o nosso acabado e perdido, e sorri! Começamos então um caminho mais profundo e positivo do que supúnhamos.

Por diversas vezes, quiseram agarrar Jesus para fazê-lo rei. E Jesus escapa sempre a essas tentativas. Mas houve uma vez em que Jesus usou a Sua própria iniciativa, querendo entrar em Jerusalém. Só que o fez da maneira mais estranha e... risível! Pôs-se em cima de um jumento, e entrou e foi aclamado rei não pelas autoridades competentes, mas pelas crianças e pela gente de estrada! É interessante como São João ao contar isto, em Jo, 12-6, diz assim: "Os discípulos não compreenderam nada do que tinha acontecido" Como é que se poderia compreender o que se tinha passado, sem ligar ao humor profético de Jesus? Vem-nos imediatamente à lembrança os Cristos pintados por Rouault. O Cristo clown, em todo o seu dramatismo, é também humor, explosão de cor formidável. O resgate acontece não apenas pelo sofrimento. Acontece também pela alegria.

 

A alegria de Paulo

O humor continua na história dos Apóstolos. É o caso de Actos 12, quando Pedro é libertado da prisão. Vem ter a casa onde os discípulos estão reunidos e bate à porta fortemente. Uma criada acorre a abrir e pergunta quem é. Ela escuta, então: "Sou Pedro!". Reconhece a voz de Pedro e apressa-se a dizer aos outros que Pedro está à porta. Gera-se mesmo uma discussão: será mesmo ele? Mas ele estava preso!... E Pedro continua a bater à porta!

Há um texto de um teólogo alemão sobre os Padres do Deserto, com um título entusiasmante: "Quando o cristianismo tinha piada". Os Padres do Deserto são testemunhas extraordinárias do humor de Deus, mas o maior teólogo da alegria é Paulo de Tarso. Nos seus textos aparece-nos um terço das ocorrências da palavra alegria no Novo Testamento, e é interessante o jogo que ele estabelece entre alegria, que em grego diz-se kara, e Amor gratuito que se diz Karis. Alegria e Amor têm em grego a mesma etimologia. Para entendermos a alegria, temos de pedir a iluminação do amor e vice versa. A Carta aos Filipenses é a carta magna da Alegria cristã e contém formulações impressionantes. Em 1975, o Papa Paulo VI escreveu uma Encíclica sobre a alegria que intitulou Gaudete in Dominum / Alegrai-vos no Senhor, uma citação da Carta aos Filipenses. A alegria cristã é uma realidade paradoxal. Quando Paulo escreve aos Filipenses, está na prisão e perguntamo-nos: como é que um prisioneiro, como é que alguém algemado pode escrever o grande documento sobre a alegria? Este facto desafia-nos a um outro entendimento da alegria.

 

José Tolentino Mendonça
© SNPC | 24.09.09

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Anjo risonho
Catedral de Notre-Dame de Reims












































 

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