Bíblia
Nobel da Literatura revela ingenuidade confrangedora
O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, afirmou que José Saramago “revela uma ingenuidade confrangedora quando faz incursões bíblicas” e, como “exigência intelectual, deveria informar-se antes de escrever”.
O prelado sublinhou que “qualquer introdução a uma edição da Bíblia, mesmo a mais básica, explica que as personagens e os factos relatados são uma leitura religiosa da realidade”.
O teólogo Anselmo Borges afirma que o Nobel fez uma leitura “completamente unilateral” da Bíblia, que tem, como qualquer livro, de ser lida como um todo para se apreender o sentido, que é o da salvação.
O director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, Peter Stilwell, considera que “seria espantoso” que José Saramago encontrasse algo divino na Bíblia e sublinhou que o escritor escolheu o fratricida Caim e não Abel, a vítima.
"Do que José Saramago acusa a Bíblia, pode-se acusar a literatura de José Saramago", afirmou o P. José Tolentino Mendonça à TVI. "Toda a literatura reflecte também a crueldade, a violência e as grandes crises históricas".
O responsável pela comunidade judaica de Lisboa, o rabino Eliezer di Martino, acusa Saramago de desconhecer a Bíblia, garantindo que o “mundo judaico não se vai escandalizar” com o que o prémio Nobel escreveu.
Para o rabino, o escritor “não conhece a Bíblia nem a sua exegese”, fazendo “leituras superficiais das narrativas” desse conjunto de livros.
Golpe de publicidade
Para o biblista Fernando Ventura, José Saramago tem a exigência intelectual de se informar antes de escrever.
O religioso capuchinho refere que “a Bíblia pode ser lida por alguém que não tem fé, mas supõe alguma honestidade intelectual de quem o lê”, e acusa Saramago de “uma falta gigantesca” dessa honestidade.
Mais grave, acrescenta o Pe. Ventura, é o desconhecimento “do que são géneros literários” ou do lugar do “mito” na literatura, o que considera especialmente negativo num escritor, que se debruçou “sobre um âmbito que não domina”. “Não saber situar o texto no contexto é imperdoável para um escritor”, acrescenta.
O biblista espera que esta polémica sirva como “provocação” para que os católicos se questionem sobre a melhor maneira de responder a um “golpe publicitário” que atinge um meio marcado por uma “atroz ignorância bíblica”.
In Lusa, Agência Ecclesia, TVI
19.10.09
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