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Imigração, acolhimento

A segunda vida das cabines telefónicas

Houve um momento em que as cabines telefónicas morreram. Elas continuavam nos mesmos sítios, é verdade: nos largos das aldeias, no alinhamento aparentemente anónimo das grandes vias urbanas, numa estação de serviço, na dobra apetecível de um jardim… Mas já sem qualquer uso, apenas assinaladas por uma solidão melancólica e mais ou menos cinematográfica, que estávamos a ponto de garantir como irreversível. Os portugueses euforicamente tinham-se tornado campeões nos gráficos europeus de posse de telemóvel por habitante e votavam à extinção o arqueológico sistema anterior.

Até que, quase sem nos darmos conta, surgiu uma segunda vida para as cabines telefónicas que abandonamos. Raramente se ouve nelas agora o português ou o português de Portugal. Dispensadas das chamadas nacionais, tornam-se um ponto de conexão com o vasto mundo, da América do Sul aos Urais. E, por imposição dos fusos horários, descobrirmo-las acesas noite dentro, em funcionamentos que julgávamos imprevistos.

Ao constatar a reactivação das cabines telefónicas, vem-me à memória muitas vezes o fabuloso filme de Sérgio Tréfaut, “Lisboetas”, estreado em 2004. Quem quiser compreender a realidade humana do Portugal de hoje tem ali um guia competente. O filme elege como objecto o acolhimento aos imigrantes, tomando e cruzando vários pontos de vista. E dessa narrativa depreendemos que a integração laboral (feita segundo critérios de legalidade e justiça, nem sempre seguidos) é um ponto de partida claramente necessário, mas não é o único a dever ser cuidado numa cidadania cada vez mais partilhada. Tréfaut fala dos que não vemos, e que contudo estão por todo o lado, diante dos nossos olhos. Pode-se ripostar dizendo que houve sempre muitas cidades dentro de uma cidade, mas de certeza ficamos mais pobres quando não conseguimos articular criativamente (e humanamente!) as nossas singularidades.

A segunda vida das cabines telefónicas de que maneira nos toca?

 

«Lisboetas» - excertos

 

 

José Tolentino Mendonça
02.07.09

Cabina telefónica

 

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