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Testemunho

A beleza salvou o mundo, e continua a salvá-lo

Em entrevista a “Theologia.fr”, D. Pierre d'Ornellas, Arcebispo de Rennes, França, fala sobre a beleza deste mundo e as implicações dessa experiência nele próprio.

"Ao recordar as primeiras experiências que considero interessantes na minha vida, creio que posso regressar à idade dos dez anos, um momento em que fui muito, muito impressionado pelo canto na catedral de Dijon. Não sei porquê, mas cativava-me e, no entanto, não sabia cantar. Então descobri que ficava fascinado pelo belo. Sob as abóbadas da catedral de Dijon, com a mestria do canto, eu fazia a experiência da beleza e ficava fascinado; a memória que tenho dessa altura é a de um garoto de dez anos que não sentia a hora da missa passar; não me lembro da missa, não me lembro da homilia, não sabia o que era a consagração, só me lembro unicamente do que via e do que ouvia… para mim, isso durava um segundo, era um espaço fechado como que fora do mundo.

Depois lembro-me, pelos 14-15 anos, de me sentir interrogado no sentido de ser padre, mas este questionamento apagou-se e encontrei-me, enquanto estudante, na beleza da natureza: caminhava na montanha e aí encontrava a beleza. Ainda que estando numa escola de engenharia, lembro-me que ficava fascinado pelo poeta Pablo Neruda, da América Latina. Nas discussões entre colegas de engenharia, eu falava como Pablo Neruda. E diziam-me sempre: "Isso não vai trazer-te dinheiro, serás um mau engenheiro!"

Depois disso foi a surpresa de Deus, se é que posso dizê-lo assim, como Habacuc quando foi agarrado pelos cabelos! [Daniel 14,35-36]. Senti que queria dar a minha vida a Deus. O absoluto de Deus fascinava-me.

(…) É verdade que permaneço muito sensivel à beleza, à literatura, à poesia. Por exemplo, sou sensível ao último livro de Fraçois Cheng, Cinq meditations sur la beauté [“Cinco meditações sobre a beleza”]. Sinto que toco algo de justo. Será que a beleza salvará o mundo? Penso que sim. Cristo é o mais belo dos filhos dos homens. A beleza salvou o mundo e continua a salvá-lo. E o que há de mais belo aos olhos do mundo não é, necessariamente, o que há de mais belo aos olhos da sociedade.

De facto, o que é a beleza?

Lembro-me sempre daquela ocasião em que, ainda jovem padre, levei alunos do último ano de uma escola a uma casa que acolhia pessoas com diversas deficiências mentais, e onde se realizava, nesse dia, um baile de máscaras. Colocávamos uma mascara e, de tempos a tempos, a música parava. Ouvia-se então: “abaixo as máscaras!”. Nessa altura descobríamos quem era o nosso par. Evidentemente que as meninas esperavam estar a dançar com o rapaz mais bonito e os rapazes com a menina mais bonita. Quando regressávamos, à noite, um dos jovens finalistas veio no meu carro e eu perguntei-lhe: “Divertiste-te?” Ele disse-me que não. “Aborreceste-te?”, perguntei. Ele respondeu-me: Não”. Então, disse eu, o que fizeste?” Ele respondeu-me muito simplesmente esta frase: “O mais belo é o Patrick”. Ora, o Patrick era um deficiente com um rosto feio, impressionante, que se exprimia muito pouco, só com algumas palavras incompreensíveis.

Mas Patrick era “muito belo”, com o seu olhar - muito, muito belo. A beleza do amor, a beleza de alguém verdadeiro, que não tem rugas em si, nada escondido.

Sinto que, no meu itinerário, esta beleza sempre me fascinou, a beleza da verdade, não no sentido intelectual, mas a beleza de alguém verdadeiro, a beleza de pessoas livres, transparentes, que vivem de Deus, pessoas sem qualquer retorno sobre si mesmas. Nem sei bem como dizer isso.

 

D. Pierre d'Ornellas
Arcebispo de Rennes
In Theologia.fr
Trad.: Maria do Loreto Paiva Couceiro
© SNPC (trad.) | 15.06.09

D. Pierre d'Ornellas
































 

 

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