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Exposição

Monte Atos e o Império Bizantino: Tesouros da Montanha Sagrada

Ícones, cálices, manuscritos iluminados, mosaicos e muitas outras peças vindas dos mosteiros da comunidade ortodoxa do monte Atos podem agora ser vistas numa exposição em Paris. Nenhum destes objetos saíra alguma vez da Grécia

O Museu de Belas-Artes de Paris, no Petit Palais, inaugurou a 9 de abril a exposição Monte Atos e o Império Bizantino: Tesouros da Montanha Sagrada, uma fascinante coleção de 183 peças, a maior parte das quais nunca antes saíra da discreta comunidade de mosteiros ortodoxos que rodeia o monte Atos, na mais oriental das três penínsulas da Calcídica, no Norte da Grécia.

Abrangendo um período que vai do século IX ao século XVIII, o conjunto agora exposto em Paris inclui manuscritos ricamente iluminados, ícones, objetos de uso litúrgico, tecidos, mosaicos, frescos e muitas outras peças, quer produzidas pelos próprios monges ao longo dos tempos, quer herdadas dos imperadores bizantinos. Nenhuma saíra até agora da Grécia, e só algumas tinham já podido ser vistas em público, em Tessalonica, quando esta cidade foi capital europeia da Cultura, em 1997.

A própria comissária da exposição, Raphaëlle Ziadé, só conhecia as peças em reproduções fotográficas. E, a menos que as regras da comunidade monástica venham a ser alteradas, nunca as poderá ver no seu lugar de origem. A entrada de mulheres é estritamente proibida em todo o monte Atos, onde existem 20 mosteiros, além de centenas de capelas, ermitérios e grutas.

O monte Atos é uma genuína singularidade política na União Europeia, a que formalmente pertence. Espécie de estado teocrático medieval incrustado na Grécia moderna, é um território independente sob protetorado grego, regido por uma constituição elaborada pelos abades dos mosteiros, que a própria Constituição grega aprovou em 1927. Entre outras particularidades, constitui uma ostensiva exceção à livre circulação de pessoas determinada pelo acordo de Schengen. Para se visitar o monte Atos - ao qual só pode aceder-se de barco, a partir do porto de Ouranopolis - não basta ser-se homem. É preciso um visto das autoridades gregas e uma autorização dos monges, que praticamente só deixam entrar peregrinos ou especialistas de arte bizantina.

Mas a Igreja Ortodoxa parece entusiasmada com esta inédita iniciativa de divulgação pública da mais fechada das suas comunidades. O próprio patriarca de Constantinopla, e principal bispo da fé ortodoxa, Bartolomeu I, assistiu à inauguração da exposição no Petit Palais, cenário possivelmente escolhido pelo facto de o Museu de Belas-Artes de Paris dispor, na sua coleção permanente, de um dos mais importantes conjuntos de ícones existentes no mundo. E, no início de junho, um monge de Atos deslocar-se-á expressamente a Paris para, durante três dias, pintar um ícone em público.

O Governo grego não se mostra menos empenhado, e fez-se representar na cerimónia de inauguração pelo próprio primeiro-ministro, Kostas Karamanlis, e pela responsável dos Negócios Estrangeiros, Dora Bakoyannis.

Para conseguir dar aos visitantes um pouco da atmosfera original onde estas peças foram objetos de culto, antes de serem obras de arte, uma das salas do Petit Palais foi transformada numa réplica do interior de uma igreja ortodoxa, na qual os visitantes poderão ouvir gravações dos cantos que se entoam diariamente nos templos do monte Atos. A reconstituição inclui uma iconóstase, peça característica do culto ortodoxo, uma espécie de grande biombo ornado de imagens sacras, atrás do qual os padres fazem a consagração.

Ainda que talvez menos espetaculares que os ícones figurando São Jorge, São Demétrio ou a Virgem com o Menino, ou do que os belíssimos cálices litúrgicos fabricados em jaspe e prata dourada, algumas das mais interessantes e valiosas peças reunidas em Paris são documentos - vários deles assinados pela mão de imperadores bizantinos - e obras manuscritas e iluminadas. Uma das mais preciosas é um evangelho de 1340 oferecido pelo imperador João VI Cantacuzeno ao Mosteiro de Vatopedi, cujas letras são todas gravadas a ouro, de uma ponta à outra do livro.

Foto

Mosteiro Simonos Petra, Monte Atos

As peças selecionadas por Raphaëlle Ziadé vieram de nove dos 20 mosteiros do monte Atos, e algumas remontam ao século IX, data a partir da qual a história dos cenobitas cristãos na península está bem documentada. Tudo leva a crer que tenha sido a perseguição aos que fabricavam e rendiam culto a imagens, especialmente intensa na primeira metade do século IX - durante a chamada segunda crise iconoclasta -, o que levou os monges a procurar refúgio num local de difícil acesso.

Dormição. Mosteiro de Iviron

A tradição, no entanto, faz remontar a presença dos monges aos tempos de Constantino, entre os séculos III e IV. E uma lenda dos monges afirma que um barco que conduzia a Virgem Maria e São João Evangelista, que iam a Chipre visitar Lázaro, foi levado pelo vento a aportar junto ao monte Atos. Extasiada com a beleza do local, a mãe de Cristo terá pedido para que aquele fosse o seu jardim. Um tanto paradoxalmente, é nesta tradição que tem origem a norma, ainda vigente, que proíbe a entrada de mulheres.

Foto

Cálice. Mosteiro de Vatopedi

 

Imagem

Mosteiro de Iviron

 

Luís Miguel Queirós
In Público, 12.04.2009
12.04.09

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