Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

Meditar no presépio com os cinco sentidos (5): A pele

O Natal mergulha-nos no mistério da incarnação. Uma ocasião para meditar com base nos cinco sentidos. «Marcados pelo pensamento grego e a sua tendência para depreciar a carne, espiritualizamos depressa demais os acontecimentos, e temos medo da dimensão carnal dos textos bíblicos. No entanto, é assumindo a humanidade que se acede à divindade de Deus por Cristo, Deus feito homem», explica o padre jesuíta Noël Couchouron.

Santo Inácio propõe que a pessoa se coloque a um canto da cena do nascimento de Jesus «como um pobre», dispondo os sentidos para se deixarem impressionar por aquilo que acontece, como uma película fotográfica», acrescenta o religioso. A cena, com a sua decoração e personagens, pode de tal maneira imprimir-se na pessoa, ao entrar pela «porta dos sentidos», que a maneira de ser e de agir no quotidiano deixar-se-á, aos poucos, transformar.

Deixe-se guiar por esta meditação sobre o presépio com um cozinheiro, uma iluminadora, um pastor, um músico e uma cuidadora, que centram a atenção no gosto, na visão, na audição, no odor e no toque.

 

O corpo: Lugar de ternura e vulnerabilidade

Pelo toque, a Ir. Sofia, que trabalhou durante uma dezena de anos num serviço de neonatologia, convida a tomar consciência da fragilidade de Jesus no presépio. Mas também dos seus laços de ternura com Maria e José.

Maria terá passado mal ao fazer nascer Jesus? As condições para o parto não foram confortáveis. Ela terá sofrido a dor da precariedade, o frio, os escassos meios para aquecer o seu recém-nascido. Felizmente, o burro e o boi estavam lá, a sua respiração tépida libertava um doce vapor que acariciava a pele do Menino.

E Jesus? Que terá sentido nesta primeira noite passada na Terra, fora do seio maternal? Em primeiro lugar, sem dúvida, «as mãos de José, as suas mãos trabalhadoras mas doces, que terão sido as primeiras, talvez antes de Maria, ergueram o Menino recém-nascido, ainda envolvido no líquido amniótico», a pele coberta de vernix, substância cremosa e esbranquiçada que protege a sua pele, evoca a religiosa da comunidade Aïn Karem.

«Nesse momento, José olhou-o no seu coração como um tesouro.» Depois, Maria tomou o Menino nos seus braços, tendo cuidado para não o apertar, pô-lo na sua pele, sobre o seu seio liso e doce.

Este primeiro toque tranquiliza Jesus, como todos os recém-nascidos, assim como a tepidez do leite que flui entre os seus lábios. Ao ter dado «o grande salto no vazio», o corpo da sua mãe contém-no, sossega-o.

«Este pele-a-pele é, verdadeiramente, o momento do encontro. Mesmo antes do olhar, é no momento das carícias que a mãe se apropria da sua criança. Esta reconhece o corpo da sua mãe desde o nascimento, a sua mão que acariciava o seu ventre, percebe o seu acolhimento e o seu amor.»

Maria torna-se verdadeiramente mãe neste primeiro toque. «As mães das crianças prematuras, quando têm o seu filho nos seus braços, tornam-se mães pelo toque, que lhes chega ao mais íntimo delas.»

«Que descoberta para Maria! O Senhor quis isto para Ele, até a este ponto de total dependência. Ele apanhou tudo. Teve fome, chorou. Jesus entrou nesta História, no meio da nossa humanidade.» E conheceu o apaziguamento feliz da criança aninhada contra a sua mãe.

Absolutamente entregue, foi também dependente da sua mãe para ser mudado, quando as suas fraldas estavam sujas e ele chorou para exprimir o seu desconforto. E é com um cuidado infinito, uma doçura do gesto que teme magoar um ser tão frágil, que Maria tomou o seu pequeno para recomeçar o gesto de o lavar e o vestir.

«Todas estas pequenas coisas, estes pequenos gestos simples, tal como mudar um leito, dar de mamar a cada três horas, podem ser redescobertas como grandes atos de amor, nos quais se pode exprimir muita delicadeza.»

Quando Maria e José davam os primeiros cuidados ao bebé, a Ir. Sofia imagina-os a rir, como os pais que desatam a rir ao mudar o seu filho. Este riso de alegria diz o encontro que está em jogo no delicado tocar dos corpos, onde se diz a nossa dependência dos outros, laço profundo que une a incarnação e o amor.


 

Pauline Quillon
In Famille Chrétienne
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 09.10.2023

 

 
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Impressão digital
Paisagens
Prémio Árvore da Vida
Vídeos