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Bento XVI: figura «ímpar» do pensamento que destruiu todos os preconceitos

Henrique Monteiro, antigo diretor do "Expresso" e colunista daquele semanário, escreve hoje que Bento XVI «deu cabo de todos os preconceitos daqueles que, à data da sua eleição, queriam vê-lo como um mero "pastor alemão"».

«Eu não sou católico, mas aprendi a respeitar a coerência e a elevação onde quer que elas estejam, bem como a tolerância e a convivência como valores indispensáveis à compreensão mútua. E por ter lido e ouvido de viva voz o Papa, considero-o uma figura impar na nossa intelectualidade», observa no site do semanário.

«Ratzinger tem toda a razão quando defende que a tolerância está em perigo com as doutrinas politicamente corretas. O seu exemplo é para mim paradigmático. Ei-lo "está a difundir-se uma nova intolerância (...) existem regras ensaiadas de pensamento que são impostas a todos e que são depois anunciadas como uma espécie de tolerância negativa. Como quem diz que, por causa da tolerância negativa não pode haver crucifixos nos edifícios públicos. Basicamente isto significa a abolição da tolerância"», sublinha.

No texto intitulado "O Papa verdadeiro, não o do preconceito", Henrique Monteiro sustenta que «é difícil ir contra aquilo que se convenciona, em determinado momento, ser moda: o chocante, o grotesco, a desconstrução, a ganância, o egotismo», mas «uma vez que a Igreja Católica continua a aprendizagem da convivência, mais do que possível é desejável o caminho comum».

Um dos temas fortes das intervenções de Bento XVI, a relação entre fé e razão, «liga-se a uma questão pertinente que raras pessoas gostam de responder. Esta: se a cultura, ou o múnus da cristandade no Ocidente perder a sua força estruturante da sociedade quem ou o quê vai assumir o seu lugar?»

O atual director editorial para as Novas Plataformas do grupo Impresa considera que «Bento XVI resignou por nenhum motivo obscuro, mas por ser quem é e sempre foi: um racionalista (ele mesmo escreveu e disse várias vezes que não era um místico) que entende profundamente o valor da vida e do ser humano».

O artigo retoma o texto que assinou aquando da visita de Bento XVI a Portugal, quando então perguntava «por que estranha razão, a cada passo, se ouve dizer que este Papa é um reacionário temível?».

O que Bento XVI quis dizer aos convidados do CCB [Centro Cultural de Belém, Lisboa, 12.5.2010], entre eles muitos pertencentes a outras confissões ou não professando nenhuma, foi simples: que cada um deve fazer da sua vida um lugar de beleza e que a Igreja está sempre a aprender a conviver e a respeitar os outros; "outras verdades, ou as verdades dos outros"».

«A mensagem foi de uma profunda tolerância e de esperança que a "Verdade" possa iluminar cada ser humano. Quem se sente ameaçado por palavras assim?», questiona.

«Bento XVI surge-nos infinitamente melhor do que aquilo que dele dizem», aponta Henrique Monteiro, salientando que «a luta central» do papa «é contra a desregulação do ethos, da ética - a mesma desregulação que elevou a ganância e a especulação a deuses de pés de barro que se estatelaram no primeiro abanão».

«É uma luta árdua contra a desvalorização da vida, da família, do esforço honesto e da esperança que pode e deve envolver não apenas os católicos. No CCB, também os líderes de outras confissões saudaram as palavras do Papa», acrescenta.

O anterior diretor do semanário com maior tiragem em Portugal considera que «tudo o que diz respeito ao Vaticano e ao Papa surge na imprensa e em certos círculos acompanhado de preconceito, desonestidade e até desinformação».

«A reação do Papa às denúncias do escândalo da pedofilia foi esta, exatamente, que transcrevo (e não o que por aí anda a correr: "Desde que sejam verdade são bem vindas - a verdade, conjugada com o amor corretamente entendido é o valor primordial". Eis algo que é raro, senão impossível, ouvir de alguém responsável, nomeadamente na política», aponta.

Henrique Monteiro acentua ainda que «Bento XVI tem razão quando afirma que ninguém faz, em concreto, tanto pelos pobres, pelos que passam mal e sobretudo pelos doentes de sida como a Igreja».

«Andei muito por África - cobri conflitos civis em Angola, Moçambique, África do Sul, Namíbia, Malawi, Congo, Zimbabwe e sei bem que nesse Continente, bem como noutras partes do mundo, a Igreja tem uma obra assinalável. Há nos locais mais recônditos, sujos, doentios, depressivos sempre alguém que, por nada ou quase nada em troca, está lá a ajudar os outros. Diria que 100% são crentes e desses a maioria cristãos e a maior parte católicos», refere.

 

© SNPC | 12.02.13

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Manchete da edição
de 12.2.2013 do jornal
L'Osservatore Romano",
do Vaticano:
"Bento XVI deixa o pontificado"

 

 

 

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