O P. José Tolentino Mendonça, coordenador do júri do prémio Árvore da Vida na edição de 2018 do IndieLisboa, considera que é «absolutamente pertinente» a presença da Igreja «num dos festivais mais importantes do país».
Esta participação permite «acompanhar, em direto, a produção cultural mais significativa que se faz no campo do cinema português em cada ano. Por isso a presença da Igreja no IndieLisboa não só é justificável como é absolutamente indispensável», frisou.
O envolvimento da Igreja católica no IndieLisboa começou quando o P. José Tolentino Mendonça dirigiu o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, tendo prosseguido ininterruptamente após a passagem de testemunho para o atual diretor, José Carlos Seabra Pereira.
O festival manifesta, da parte da Igreja, «uma disponibilidade para conhecer, para fazer diálogo, para estabelecer encontros, para valorizar o caminho que os outros fazem, as perguntas que colocam».
«Essa deve ser muito a atitude da Igreja, que não é apenas a de transmitir uma mensagem e um ensinamento, mas é também acompanhar, escutar, ver, sublinhar, e essas são dimensões muitos importantes da presença de uma pastoral da cultura», apontou Tolentino Mendonça.
O prémio Árvore da Vida, no valor de dois mil euros, é atribuído a um dos filmes selecionados pela organização do IndieLisboa para a secção da Competição Nacional, que têm, maioritariamente, estreia mundial no festival.
O júri deste ano, composto, além do P. Tolentino, por Olívia Reis e João Pedro Vala concedeu o prémio a um filme que privilegia valores espirituais e humanistas, a par das qualidades cinematográficas.
A edição de 2018 do IndieLisboa, a 15.ª exibiu uma «grande diversidade de filmes, com uma qualidade média muito assinalável, permitindo um olhar para o Portugal contemporâneo fazendo uma espécie de balanço», sublinhou o P. Tolentino Mendonça,
«Tocou-me muito um tema transversal, uma espécie de fio condutor de todos estes filmes, feitos num registo necessariamente diferente e pessoal, que é o regresso à família, o desejo de reencontrar os laços parentais, fundar e problematizar uma relação com a mãe, com o pai, perguntar sobre o que significa ser filho hoje, partir ao encontro de raízes deslaçadas», afirmou.
Este denominador comum, mais explícito nuns filmes do que noutro, foi uma surpresa para o poeta e teólogo, que também destacou o facto de grande parte dos realizadores ter uma idade ainda muito jovem.
«Hoje pensamos que as pessoas estão preocupadas com o seu trabalho, com as saídas profissionais, com o que há de ser o futuro, com a incerteza no mundo; e de repente percebemos que a questão maior é a da relação fundacional com a própria família e com essas figuras arquiteturais que são os nossos pais», sublinhou.