A rápida e criativa capacidade de reação da Igreja diante da impossibilidade da celebração pública de missas e outros sacramentos, a par do encerramento temporário dos encontros formativos, como a catequese, tem sido destacada pela imprensa generalista em Portugal que não está ligada à esfera católica.
A agência Lusa destaca que «há cada vez mais padres a explorar as redes sociais para manter o contacto com os fiéis», e apresenta como exemplo a diocese mais ocidental do país, Angra, na qual um pároco da ilha Terceira, P. Júlio Rocha, «transmitiu pela primeira vez uma missa na rede social Facebook e chegou a ter mais de 600 visualizações, repartidas entre quem estava na ilha, mas também nas comunidades emigrants».
A agilidade na adaptação à diversidade supera o obstáculo de quem, como ele, «percebe pouco de novas tecnologias», mas informou-se como poderia, nas semanas que estão pela frente, estar mais próximo das pessoas, porque elas «têm sede de Deus» e precisam, possivelmente agora mais do que noutras ocasiões, de uma palavra de «conforto».
«Tinha uma sensação de ausência do meu povo. Há uma altura ali a meio da homilia em que tive de parar para não começar a chorar. É uma série de sensações que nos percorrem durante aquela celebração, de estarmos a celebrar para o desconhecido», declarou, antes de confessar o nervosismo diante da situação inédita.
O P. Júlio está convicto de que «a maior parte das pessoas, mesmo aquelas que deixaram de ir à missa, que foram abandonando a fé dos seus pais, a esmagadora maioria volta-se para Deus, como a tábua de salvação», embora não se esteja perante um «cenário apocalíptico».
«Eu não quero que o povo das minhas paróquias, Porto Martins e Fonte do Bastardo, se sinta abandonado pelo seu pastor, quero que eles sintam que ele está presente, que ele pensa, que ele se preocupa espiritualmente com eles, quero dar a palavra que todas as semanas lhes dou», acentua o sacerdote, expressando um sentimento que será idêntico ao de milhares de outros párocos em Portugal e no mundo.
O “Jornal de Notícias” revela que o P. António Martins, na diocese da Guarda, seguiu o exemplo de outros sacerdotes ao encher a igreja, vazia, com fotografias dos seus paroquianos: «Assim já não rezo sozinho… Obrigado a quem já partilhou as suas fotografias ou das suas famílias comigo. Já tenho a igreja meia… Para um dia de semana já tenho uma assembleia bem significativa… Será que até domingo a conseguimos encher?», escreveu no Facebook, antes de se despedir «cheio de saudades».
O mesmo jornal assinala que o P. Ricardo Esteves, na diocese de Viana, desafiou os fiéis a criar um hino de esperança perante a pandemia. Na sua página do Facebook – em mais um exemplo de como as redes sociais não servem apenas para a transmissão de celebrações – anunciou, no sábado, que recebeu «dezenas de mensagens», passando-se agora à seleção das três mais criativas.
Às portas de Lisboa, «o padre José Fernando Ferreira percorre as ruas de Moscavide para transmitir mensagens positivas», relata o “Observador”: «O objetivo é manter viva a esperança, dar apoio aos que estão em casa, para que não desesperem e não caiam no suicídio».
A imagem de Nossa Senhora de Fátima também já ocupou «esta espécie de andor sobre rodas», e a próxima será de Santo António, padroeiro da paróquia: «Uns choram, outros batem palmas e estendem uma colcha branca à janela. Também há quem me mande para casa, mas enquanto não for abordado pela polícia irei continuar».
Por seu lado, o “Expresso” nota que a celebração da consagração de Portugal e Espanha, a que se associaram episcopados de outros países, ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, realizada na quarta-feira no santuário de Fátima, presidida pelo cardeal António Marto, «registou mais de 49 mil visualizações em direto».
«Em média, as cerimónias de Fátima registavam até agora 2500 visualizações em direto. As audiências no YouTube subiram 1860% neste direto», números que constituem «um recorde», que deixa de fora «as audiências não contabilizadas dos 51 canais de televisão e rádio que, em todo o mundo», transmitiram a celebração.
O semanário noticia que «nos dias da pandemia, a página de Facebook daquele Santuário teve um crescimento orgânico de 3 mil pessoas por dia, passando a ser seguida por mais de um milhão de pessoas. As publicações alcançaram 2,5 milhões de pessoas (mais 69% do que o habitual) e tiveram uma média de 37.100 visualizações, o que representa uma subida de 270%».
A Ecclesia também «acompanhou o “boom” de visitas virtuais. No último mês, a página “online” teve um acréscimo de 1179% dos seguidores e, apesar de todos os colaboradores estarem em teletrabalho, a agência aumentou 758% as ações na página, seja através da publicação de notícias ou da transmissão de emissões em direto», refere o jornal.
A audiência das missas e de outras celebrações litúrgicas transmitidas pela internet, nomeadamente as orações de horas litúrgicas (por exemplo, Laudes, Vésperas, Completas) e a exposição do Santíssimo Sacramento, é composta não só pelas pessoas que, até ao confinamento, nelas participavam ao vivo, mas também por internautas de Pequim à Califórnia.
Nos canais generalistas RTP-1 e TVI, a audiência da missa dominical a 22 de março continuou a ultrapassar um milhão de espetadores, mantendo os índices da semana anterior; nesse dia, a transmissão foi o quarto programa mais visto do dia no canal público. Os números duplicam, aproximadamente, os de 8 de março, o último domingo em que foi possível a participação em celebrações públicas da eucaristia: nessa data, as eucaristias apresentadas por aquelas estações ficaram aquém dos 600 mil espetadores.
A página do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura tem acompanhado a tendência de crescimento no número de acessos, mesmo sem transmissão em direto de celebrações litúrgicas: de 14 a 29 de março registou-se um aumento superior a 500% no número de visualizações face ao mesmo período de 2019.