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“À mesa com S. Domingos”: Ordem dos Pregadores prepara oitavo centenário da morte do fundador

Passou um ano da eleição do primeiro mestre da Ordem dos Pregadores proveniente da Ásia, o teólogo filipino Gerard Francisco Timoner III. Nascido há 52 anos numa terra de antiga tradição católica, «evangelizada, entre outros, por missionários dominicanos espanhóis que publicaram, em 1593, o primeiro catecismo na nossa língua», foi eleito a 13 de julho de 2019, na cidade de Bien Hoa, Vietname. O 88.º sucessor de S. Domingos orientará a Ordem mendicante durante nove anos.

No dia, 8 de agosto, em que os frades pregadores, com toda a Igreja, celebram a memória litúrgica do seu fundador, começa a preparação simbólica para o Jubileu pelos 800 anos da morte de S. Domingos (1221-2021).

Entrevista ao P. Timoner na sede da cúria da Ordem, em Roma, junto à basílica de Santa Sabina, onde todos os anos o papa peregrina para celebrar a missa com o rito da imposição das cinzas, no início da Quaresma.

 

Parte do seu percurso académico é europeu. Frequentou a escola teológica de Nimega, na Holanda. Como é que isto marcou a sua história de frade?

Tive o privilégio de aprender muito graças à experiência de cinco anos (2014-2019) na Comissão Teológica Internacional. Fiz parte da subcomissão sobre a sinodalidade na vida e na missão da Igreja. Recordo que, no nosso primeiro encontro, ao refletir sobre a vida concreta da minha Ordem, confidenciei que para mim é óbvia, e faz parte do ADN do nosso ser dominicanos, a sinodalidade, que é verdadeiramente o “modus vivendi et operandi” da Igreja.

É verdade que tive uma educação teológica ocidental, mas também nas Filipinas estudámos Tomás de Aquino e a teologia europeia. Todavia, permaneço oriental para tudo o resto. Por outras palavras, tenho uma formação teológica verdadeiramente “intercultural”. Em certo sentido, experimentei aquilo que o cardeal Joseph Ratzinger disse numa conferência há muitos anos: «Não devemos mais falar de inculturação, mas de encontro de culturas ou interculturalidade».

 

Hoje recorda-se o vosso fundador, data que nos transporta para 2021, quando passam os 800 anos da morte do santo de Caleruega.

Em 2021 celebraremos o 800.º aniversário do “dies natalis”, o nascimento para o Céu de Domingos. O tema das celebrações jubilares é “À mesa com S. Domingos”, que se inspira na pintura guardada em Bolonha, na paróquia de Mascarella. Gosto de imaginar o nosso pai Domingos não como um santo sentado iconograficamente sobre um pedestal, mas como um homem que vive com alegria à mesa a comunhão com os seus irmãos, reunidos pela mesma vocação de pregar a Palavra de Deus.

O ano jubilar sugere-nos que reflitamos sobre estas perguntas: o que significa para nós estar à mesa com S. Domingos aqui e agora, “hic et nunc”? De que maneira é que o seu exemplo nos inspira e encoraja a partilhar a nossa vida, a fé, a esperança e o amor, os nossos bens espirituais e materiais, de modo que também outros possam ser alimentados a esta mesma mesa? De que maneira esta mesa se torna lugar para partilhar a Palavra e partir o Pão da vida?

 

Que abanão profético os Dominicanos, conhecidos pelo apostolado intelectual e pela luta contra as heresias, têm de dar hoje para despertar o sentido do sagrado na Europa pós-cristã?

Creio que “abandonar a esperança”, de uma perspetiva teológica, é abandonar Deus, porque a esperança é a presença constante de Deus connosco. A esperança não é otimismo que nasce de uma atenta avaliação das perspetivas futuras em relação às nossas capacidades e recursos. A esperança não é a inversão de um presente miserável num futuro miraculoso. A esperança funda-se na certeza de que Deus nunca nos abandonará. A esperança é a certeza de que Deus se atém aos «mistérios da alegria, da dor, da glória e da luz» da nossa vida. «A esperança é Cristo em nós» (Colossenses 1,27).

 

Que estilo de novo anúncio pode chegar dos Dominicanos para um “renascimento” cristão da Europa?

Ouve-se dizer muitas vezes que no Velho Continente a Igreja é percecionada como uma instituição «cansada e idosa». E por isso muitos jovens não são estimulados a conhecer na profundidade a vida e a história do catolicismo.

Encontrei-me com um jovem frade europeu que partilhou comigo o seu percurso vocacional. Fiquei a saber que os seus pais são por tradição católicos, mas não o batizaram. Em adulto, pôs-se à procura, e encontrou resposta às suas perguntas de sentido dentro da Igreja católica. No fim, quis empreender um percurso de fé e pediu para receber o Batismo. Mais tarde, levou a sua mãe à igreja e convidou-a a rezar com ele. A mãe chorou e experimentou assim a sua conversão.

Enquanto escutava a sua história, perguntei-me: quantos jovens são como este frade? Se há poucos jovens que frequentam os nossos lugares de culto, provavelmente é porque houve uma geração de pais que decidiu não levar os filhos à igreja. Em certo sentido, a Europa tornou-se um território missionário. É por isso que o papa Francisco nos chama a redescobrir a nossa vocação de «discípulos em missão».

 

No seu discurso de tomada de posse apontou como estrada de uma «nova evangelização» a empreendida por S. Domingos e S. Francisco.

Sim, recordo-me de ter dito que «a missão é principalmente aquilo que somos e, secundariamente, aquilo que fazemos». Isto baseia-se na visão de Domingos para a Ordem que foi claramente manifestada quando pediu ao papa Honório III de introduzir uma pequena, mas significativa, modificação à bula de 21 de janeiro de 1217: com efeito, o fundador quis que a palavra original “praedicantes” mudasse com o substantivo “praedicatores”, isto é, aqueles que pregam. Portanto, podemos dizer que a nossa missão não é principalmente aquilo que fazemos, isto é, pregar, mas quem somos. Se isto ficar claro, tudo o resto virá como consequência. Somos pregadores mesmo quando não pregamos. E permanecemos assim mesmo se, velhos ou idosos, não formos mais capazes de falar. Somos pregadores também se fazemos investigação sozinhos, nos nossos quartos. Somos pregadores quando ajudamos os menos privilegiados. Creio que esta é a nossa identidade desde há oito séculos.

 

Dominicanos na história

O coração das celebrações jubilares será a basílica patriarcal de Bolonha, Itália, onde se encontram os restos mortais do santo que faleceu no convento adjacente a 6 de agosto de 1221. O jubileu abrirá oficialmente a 6 de janeiro, que se concluirá em 2022, no dia da Epifania. Um dos momentos mais importantes das celebrações ocorrerá a 24 de maio, quando se assinala a festa da “trasladação” de S. Domingos.

Os Dominicanos são atualmente cerca de cinco mil, espalhados em 80 países, entre os quais Portugal, pátria de S. D. Frei Bartolomeu dos Mártires, que a Conferência Episcopal considerou como «grande modelo para a renovação da Igreja».

De Tomás de Aquino a Alberto Magno, de Mestre Eckhart a Francisco de Vitória, considerado um dos pais do direito internacional, são várias as personalidades que se distinguiram pelo apostolado intelectual. E quatro foram os papas dominicanos: Beatos Bento IX e Inocêncio V, S. Pio V e o Servo de Deus Bento XIII.

No século XX, Marie Dominique Chenu e Yves Marie Congar deixaram marca relevante durante os trabalhos do concílio Vaticano II. A Ordem foi também a casa de Dominique Pire, que em 1958 foi distinguido com o prémio Nobel da paz. E Luis Joseph Lebret é considerado o inspirador da encíclica “Populorum progressio” (1967), de S. Paulo VI.

Uma antiga tradição determina que o teólogo da Casa Pontifícia, ou seja, o “conselheiro em questões de doutrina” do bispo de Roma seja escolhido entre os religiosos dominicanos; atualmente é o polaco Wojciech Giertych.

A “Família Dominicana” abrange monjas dedicadas à vida contemplativa, religiosas apostolicamente comprometidas, e fraternidades laicais e sacerdotais.



Imagem Fr. Gerard Francisco Timoner III | D.R.

 

Filippo Rizzi
In Avvenire
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 08.08.2020 | Atualizado em 07.10.2023

 

 

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