gorchittza2012/Bigstock.com
O papa vincou hoje que os católicos, ainda que sejam cada vez menos, nunca se podem demitir nem desistir da sua identidade profunda, que é a de refrescarem a sociedade com as suas convicções.
«Poucos sim, em minoria sim, idosos sim, resignados não», declarou Francisco no encontro com padres, religiosos e religiosas da arquidiocese italiana de Milão, que visita este sábado.
A palavra «minoria» acompanha «normalmente» um «mau sentimento», a «resignação»: «Sem nos darmos conta, de cada vez que pensamos ou constatamos que somos poucos, ou em muitos casos idosos, que experimentamos o peso, a fragilidade, mais do que o esplendor, o nosso espírito começa a ser corroído pela resignação».
«Quando se fica resignado, vivemos com o imaginário de um passado glorioso que, longe de despertar o carisma inicial, envolve-nos cada vez mais numa espiral de peso existencial», pelo que, para o contrariar, é preciso «revisitar as origens», tornando presente uma memória que salva de «quaisquer imaginações gloriosas mas irreais do passado».
Com efeito, prosseguiu o papa, «a maioria» das pessoas que fundaram congregações religiosas «nunca pensaram em ser uma multidão, ou uma grande maioria», mas a serem «presença jubilosa do Evangelho para os irmãos, a renovar e edificar a Igreja como fermento na massa, como sal e luz do mundo».
«Hoje, a realidade, devido a muitos fatores em que não nos podemos agora deter para analisar, chama-nos a desencadear processos mais do que ocupar espaços, a lutar pela unidade mais do que nos prendermos a conflitos passados, a escutar a realidade, a abrir-nos à massa, ao santo povo fiel de Deus, ao todo eclesial», apontou.
Os cristãos constituem «uma minoria abençoada, que é enviada novamente a fermentar», e por isso, seja qual for o seu número, são chamados a ir «às periferias, às fronteiras».
«Escolhei as periferias, despertai processos, acendei a esperança apagada e enfraquecida de uma sociedade que se tornou insensível à dor dos outros», para que se ser «mais atentos a muitas fragilidades», transformando-as em «espaço de bênção», afirmou o papa.
Sair das igrejas e do conforto dos espaços e ambientes familiares é um imperativo, frisou o papa: «Não esqueçamos que quando se coloca Jesus no meio do seu povo, este encontra a alegria. Sim, só isto poderá restituir-nos a alegria e a esperança, só isto nos salvará de viver numa atitude se sobrevivência».
Antes do encontro na catedral, Francisco sublinhou que a Igreja «não permanece no centro à espera, mas vai ao encontro de todos, nas periferias, vai ao encontro inclusive dos não cristãos, inclusive dos não crentes».
A viagem do papa a Milão começou com a visita a um bairro periférico da cidade, tendo-se seguido o encontro com padres e consagrados. Após a oração do Angelus, neste dia que em que a Igreja evoca a anunciação do anjo a Maria de que ela iria dar Jesus à luz, Francisco encontra-se com reclusos de uma prisão, preside à missa e avista-se com jovens crismandos.