Quando entro pela primeira vez numa igreja, gosto de me encostar ao portal e, durante alguns instantes, abraçar com o olhar a totalidade do edifício. Para me deixar pender pelo conjunto, sentir o espaço, sem me deter nos detalhes.
Aí, creio ter percebido uma luz doce. Parece banhar toda a capela. Se dois pequenos vitrais iluminam a solo as suas notas mais aciduladas, cada grande vidraça integra-se bem no conjunto. As curvas desenhadas pelos caixilhos de chumbo prosseguem de uma à outra. Em harmonia com amarelos pálidos, um degradé de azuis e verdes cresce e decresce a partir do vitral central. Não há um motivo específico em cada vitral. O espaço «é como um manto que se abre, um movimento de acolhimento que estende os braços», afirmou o artista, Alfred Manessier.
Aquém desta interpretação, trata-se de experimentar a luz. Porque antes mesmo de evocar ou narrar o que quer que seja, um vitral dá cor, poesia, nuances ao tempo que passa. A minha presença recolhida pode desta maneira associar-se aos grandes ciclos do cosmo ou da liturgia. Trata-se de sentir antes de ler ou compreender.
De seguida, compreende-se que a qualidade dos vitrais provém de um encontro de qualidade. Entre um encomendador, um mestre vidreiro, um artista e um edifício. Neste caso, o cónego Maurice Dilasser, reitor da capela em 1985 e irmão do pintor François Dilasser, o ateliê Lorin-Hermet-Juteau, de Chartres, Alfred Manessier e uma capela do século XV, recomposta e aumentada nos séculos XVI e XVII. A qualidade de perceção do visitante e do fiel permite tomar parte nesse encontro.