Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-Se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».
Mateus 17, 1-9
Outras leituras do dia: Génesis 12, 1-4a; Salmo 32 (33), 4-5. 18-19. 20 e 22; 2 Timóteo 1, 8b-10
No final da admirável experiência da transfiguração, os discípulos desceram do monte com os olhos e o coração transfigurados pelo encontro com o Senhor. É o percurso que podemos realizar também nós. A redescoberta cada vez mais viva de Jesus não constitui um fim em si, mas induz-nos a «descer do monte», restaurados pela força do Espírito divino, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente a caridade, como lei de vida diária. Transformados pela presença de Cristo e pelo fervor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificador de Deus por todos os nossos irmãos, sobretudo por quem sofre, por quantos se encontram na solidão e no abandono, pelos doentes e pela multidão de homens e mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência.
Papa Francisco
Curar não é só fazer passar a dor e derrotar as doenças, mas significa também dar uma esperança, abrir os olhos à profundidade da vida. A história de S. João de Deus parece um romance de trama intricada, mas guarda uma mensagem simples: se não tomamos conta do nosso irmão, qualquer que seja a nossa tarefa será vã, vazia, inútil. Nasceu em 1495 não longe de Lisboa, mas em criança fugiu de casa e teve numerosas experiências na Europa e em África: pastor, soldado, jornaleiro, vendedor ambulante e, por fim, livreiro, em Granada. Aqui se “converte”: privou-se de tudo, acabou no manicómio e conheceu o sofrimento, tendo decidido fundar um hospital, e depois a ordem dos Irmãos Hospitaleiros. Morreu em 1550.
Leia mais: S. João de Deus, patrono dos hospitais, doentes e enfermeiros; S. João de Deus: de pastor, soldado e livreiro a convertido, compadecido e cativado
Matteo Liut, Avvenire
© Catalina Martin-Chico, Panos
Ainda não é tarde
Ainda não é tarde, dizem os amigos
aos quarenta anos. Amam as canções
e as cidades estranhas que o desejo
guarda: a pressa de Junho nas escadas
do metro e essa livraria à beira do rio –
só a descobrimos no último dia, a pena
que foi. No fim da estação regressam
iguais com histórias diferentes, gratos
souvenirs. Ainda não é tarde, nada
está perdido (e ninguém lhes dá
a idade que têm). Aos quarenta anos
não sabem dizer o que aconteceu,
mas quando se juntam à roda da mesa
na vaga euforia que a hora consente,
já quase acreditam que podem voltar
à pequena praça, à luz entrevista de um
quarto de hotel, onde a noite é nova
e toda a beleza se há de cumprir.
Rui Pires Cabral
Basílica de S. João de Deus | Granada, Espanha
Com uma popularidade enorme de geração em geração (até ao advento do cânone modernista), indissociável da prestigiada paixão e obra de pedagogo (com o famoso método da “Cartilha Maternal”, aplicado pioneiramente no Bra¬sil), a poesia de João de Deus (8.3.1830 – 11.1.1896) não é a de um bardo repentista, antes resulta de discreta consciência artística, subsumida no trabalho das variantes textuais; e a aparência de singeleza de inspiração, a naturalidade da linguagem e a cadência melodiosa não devem conduzir à subestima pela idealização da Mulher e do Amor ou pela aura de religiosidade. A lírica de João de Deus não posterga o desejo erótico, embora possa transfigurá lo engenhosamente no «campo dos sonhos» ou coonestá lo por alusões religiosas; essa ambivalência liga se ao binómio antropológico carne/espírito e projeta se na recorrente oposição imagística voar / estar preso.
José Carlos Seabra Pereira
“Transfiguração de Cristo” | Giovanni Bellini | C. 1487
Nunca toleres aquilo que não é, por si só, essencialmente bom, nem tenha sido concebido para transformar o mundo de toda a gente num lugar melhor, ou, em última análise, um lugar realmente bom para o teu próprio desenvolvimento. Violar alguma dessas coisas é violar a vontade de Deus em relação à criação.
Joan Chittister