O realizador e argumentista Sean Baker (EUA, 1971) tem uma sólida reputação como criador de pequenas fatias da vida, situadas no lado decadente da existência, como “Starlet” e “Tangerina”.
Este filme, muito mais ambicioso, tem a Florida como cenário, mais precisamente Orlando, a cidade da Disneyworld, centrando-se nos seus subúrbios, espécie de enclave autónomo, apresentando o retrato de um grupo de personagens, em especial três crianças.
O trabalho foi nomeado para vários prémios, tendo recebido múltiplos elogios. Mas nem todos ficaram satisfeitos.
Para aqueles que o louvam, trata-se quase de um documentário dramático sobre pessoas pobres, especialmente mães solteiras, muitas crianças que correm à solta, nada tendo que fazer durante as férias de verão a não serem insolentes e dedicarem-se ao vandalismo.
O desafio, especialmente para aqueles que consideram que ver o filme exige resistência, é despertar a simpatia pelos personagens, o seu modo de vida, questionar o quanto estão presas no seu modo de vida e não querem sair dele – ou não sabem como sair dele.
Atente-se, por exemplo, em Halley (Bria Venaite), que encarna a mãe solteira, autocentrada mas que ama a filha, irritada e ressentida consigo própria, confiando no dinheiro que a prostituição lhe dá, vendendo perfumes aos turistas, comendo nos “resorts” sem pagar, vivendo no medo de que a sua vida se estilhace se for novamente presa.
Podemos então perguntar-nos: quanta simpatia, quanta preocupação, quanta compaixão terão os espetadores por aqueles que estão enclausurados numa vida que a maioria das audiências acha repelente ou não aprova?
Brooklynn Prince é Moonee, seis anos, sem ideia de disciplina e de controle, a não ser a de controlar os seus dois amigos, Scootie e Jancey, e a mãe. É uma performance extraordinária, uma menina que retrata a implacável obstinação, insolência, alguma maldade e vandalismo. A questão é: virá ela a tornar-se como Halley? Ou é Halley que, quando era jovem, foi como é agora Moonee?
A presidir a tudo isto, tentando usar algum controle, embora bem sempre bem sucedido, está Bob, Willem Dafoe, gerente do motel, sempre em movimento com inúmeras reparações, a escrever regras para os moradores, a intervir nas discussões, o objeto de insulto de Halley, tentando fazer o seu melhor com as crianças.
“Projeto Florida” é uma oportunidade para ver e sentir, talvez, como as personagens tentam viver. E questionar-se se a prisão reabilitará Halley ou se a intervenção da assistência social vai fazer algo de bom por Moonee.