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Somos ramos de uma videira, alimentados pela seiva do amor

Uma videira e um vinhateiro: o que há de mais simples e familiar? (cf. João 15, 1-8). Uma planta com os ramos repletos de cachos; um agricultor que a cuida com as mãos que conhecem a terra: encanta-me este retrato que Jesus faz de si, de nós e do Pai. Diz Deus com as palavras simples da vida e do trabalho, palavras perfumadas de sol e suor.

Não posso ter medo de um Deus assim, que me trabalha com todo o seu empenho, porque eu dilato com frutas suculentas, frutos de festa e alegria. Um Deus que está sempre junto de mim, que me toca, me conduz, me poda. Um Deus que me quer luxuriante. Não podes ter medo de um Deus assim, mas só sorrisos.

Eu sou a videira, a verdadeira. Cristo videira, eu ramo. Eu e Ele, a mesma coisa, mesma planta, mesma vida, única raiz, uma só seiva. Novidade apaixonada. Jesus afirma algo de revolucionário: Eu a vida, vós os ramos.

Somos prolongamento daquele tronco, somos compostos da mesma matéria, como centelhas de um braseiro, como gotas do oceano, como a respiração no ar. Jesus-videira impele incessantemente a seiva até ao último meu ramo, até ao último botão, quer eu durma ou esteja acordado, e não depende de mim, depende dele. E eu bebo dele vida dulcíssima e forte.

Deus que flui dentro de mim, que me quer mais vivo e mais fecundo. Que ramo desejaria separar-se da planta? Por que haveria alguma vez desejar a morte?

E o meu pai é o vinhateiro: um Deus agricultor, que está ocupado ao meu redor, que não empunha o cetro mas a enxada, que não se senta no trono mas no muro da minha vinha. A contemplar-me. Com olhos belos de esperança.

Cada ramo que dá frutos, poda-o para que dê mais fruto. Podar a videira não significa amputar, mas remover o supérfluo e dar força; visa eliminar o velho e fazer nascer o novo. Qualquer agricultor sabe-lo: a poda é um dom para a planta. Assim me trabalha o meu Deus agricultor, com um único objetivo: o florescimento de tudo o que de mais belo e promissor pulsa em mim.

Entre o tronco e os brotos da videira, a comunhão é dada pela seiva que sobe e se espalha até à última ponta da última folha. Há um amor que se eleva no mundo, que corre ao longo dos troncos de todas as vinhas, nas fileiras de todas as existências, um amor que escala e alimenta todas as fibras.

E eu percebi isso tantas vezes nas estações do meu inverno, nos dias de meu descontentamento; vi-o abrir existências que pareciam acabadas, fazer tornar a partir famílias que pareciam destruídas. E até os meus espinhos fez reflorescer. «Estamos imersos num oceano de amor e não nos damos conta» (G. Vannucci). Numa fonte inesgotável, a que se pode sempre chegar, e que nunca irá falhar.



 

Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: SNPC
Publicado em 27.04.2018 | Atualizado em 10.10.2023

 

 
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