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«Não sei até que ponto os políticos que decidem têm consciência do poder absolutamente transformador da arte», considera Maria Helena Vieira, do Departamento de Teoria da Educação, Educação Artística e Física da Universidade do Minho.
A perspetiva da docente foi partilhada na intervenção que proferiu este sábado durante a 13.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que debateu, em Fátima, o tema "'Out of the box': A relação dos jovens com a Cultura".
Na sua intervenção, que apresentamos na íntegra em vídeo, a investigadora falou do «paradoxo de uma sociedade que diz valorizar muito as artes mas normalmente, como diz Adélia Prado, é como enfeite».
Maria Helena Vieira defende que «a escola pública tem um papel fundamental e deveria, obrigatoriamente, incluir essas áreas de formação, numa perspetiva de literacia, que é uma ferramenta que cada um poderá usar como entender melhor».
«A arte não serve para nada, a não ser para sentirmos o mundo de outra maneira; não serve para enriquecer, não serve para competir, serve para estarmos uns com os outros e para termos consciência do que somos», acentuou.
A música é a possibilidade de «nascer de novo», frisou, depois de aludir às palavras de Jesus dirigidas a Nicodemos: «Despe-nos das palavras, das rotinas, dos preconceitos e abre-nos uma porta dos sentidos que muitas vezes não é suficientemente valorizada ou é obstruída pelos ruídos do dia a dia».
«A música é uma possibilidade de sairmos da caixa do nosso próprio corpo, não devendo, porém, negá-lo», assinalou.
De acordo com um estudo recente, o período desde o nascimento até aos nove anos é a «fase prioritária» em que os educadores podem intervir para «manter a aptidão musical no máximo», mas em Portugal nem todas as crianças têm acesso à formação no domínio da música.
O percurso de formação musical «é muito pessoal, é quase um terreno sagrado, no qual não se pode dizer "é por aqui", devendo-se antes fornecer a linguagem e a gramática, o que muitas vezes leva anos», para mais tarde se poder «saborear noutros patamares».