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Semana Santa: Estão a chegar os dias supremos da História

O domingo de Ramos mergulha-nos num dos momentos mais festivos da vida de Jesus: um rio de sorrisos, do monte das Oliveiras ao templo. E à volta era primavera, alegre e poderosa, como agora.

Nunca esqueci um diálogo, há muitos anos, com um monge trapista. Dava uma mão na cervejeira, tentando tornar-me útil, quando me ocorreu perguntar-lhe: «Padre, nunca se cansou de Deus? De rezar, de pensar nele, de dar-lhe todo o tempo? Quando nos cansamos de Deus, o que devemos fazer?».

Esperava que me dissesse: mas como é que se cansa de Deus? Em vez disso, olhou-me com os seus olhos profundos e contou-me uma homilia de S. Bernardo aos seus monges: «No dia dos Ramos, no cortejo que acompanha o Mestre e os discípulos até ao monte das Oliveiras, há quem cante, quem aplauda, quem abra alas e estenda os mantos, quem agite ramos de palmeira: um jardim que caminha. Quem está mais próximo de Jesus, quem está mais afastado. Mas todos contentes.

«Há, no entanto, uma personagem que se cansa mais que todos, ainda que seja forte, ainda que seja a mais próxima, e é a burra com o seu potro, sobre a qual estenderam os mantos, sobre a qual subiu Jesus. Quem sente todo o peso daquele homem sobre si pela encosta que sobe da torrente do Cédron até ao templo e se cansa, é a burra. É a mais próxima de Jesus, e no entanto é aquela que mais se cansa.

«Assim também nós» – prosseguiu –, «quando nos cansamos, quando sentimos o peso das coisas de Deus, talvez isso aconteça porque estamos muito próximos do Senhor, estamos a levá-lo juntamente com o peso do céu sobre nós, com as suas nuvens escuras. O importante é continuar: pouco depois está Jerusalém.»

A Semana Santa traz consigo os dias supremos da História, a Sua vida e a nossa no mesmo rio, os dias da “desforra” de Deus: quando Deus se desforra de toda a distância, de toda a separação, de toda a indiferença, inventando a cruz que ergue a Terra, que baixa o Céu, que recolhe os horizontes, encruzilhada de todos os nossos caminhos dispersos. A cruz é o abismo onde Deus se torna o amante.

Lá em cima, os braços de Jesus, pregados e estendidos num abraço irrevogável, nunca mais revogado, são as portas do Paraíso escancaradas para sempre, são dilatação do coração até se ferir, antes mesmo do golpe de lança.

Novo génesis do ser humano em Deus: o amado nasce sempre da ferida do coração de quem o ama. O ser humano nasce do coração ferido do seu criador. Revelação última que Deus e a vida são sempre dom de si, e nunca serás abandonado. Por isso, na cruz de Jesus resplandece verdadeiramente a glória da vida.


 

Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: El Greco
Publicado em 08.10.2023

 

 
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