Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

S. Tomé, irmão dos buscadores de Deus

A Igreja celebra a 3 de julho a festa do apóstolo S. Tomé. À figura deste grande santo mártir, segundo a tradição evangelizador da Síria, da Pérsia e da Índica, está ligado o episódio da aparição de Jesus ressuscitado no cenáculo, que mostra as suas feridas, e da “incredulidade” do apóstolo, que, depois, abre o coração na célebre afirmação de fé: «Meu Senhor e meu Deus!» (João 20,26-28).

Desde o início do pontificado o papa Francisco deteve-se neste momento central na vida da Igreja nascente. Publicamos uma seleção de passagens das suas meditações.

«Jesus não abandona Tomé relutante na sua incredulidade; dá-lhe uma semana de tempo, não fecha a porta, espera. E Tomé acaba por reconhecer a sua própria pobreza, a sua pouca fé. «Meu Senhor e meu Deus»: com esta invocação simples mas cheia de fé, responde à paciência de Jesus. Deixa-se envolver pela misericórdia divina, vê-a à sua frente, nas feridas das mãos e dos pés, no peito aberto, e readquire a confiança: é um homem novo, já não incrédulo mas crente» (Missa da tomada de posse da cátedra do bispo de Roma, 7.4.2013).

«Jesus volta a apresentar-se no meio dos seus e dirige-se imediatamente a Tomé, convidando-o a tocar as feridas das suas mãos e do seu lado. Ele vai ao encontro da sua incredulidade para que, através dos sinais da paixão, ele possa alcançar a plenitude da fé pascal, isto é, a fé na Ressurreição de Jesus.
Tomé é alguém que não se contenta e procura, tenciona averiguar pessoalmente, realizar uma sua experiência pessoal. Após as resistências e inquietações iniciais, no final também ele consegue crer; não obstante proceda com dificuldade, alcança a fé. Jesus espera-o pacientemente e oferece-se às dificuldades e às inseguranças daquele que chegou por último» (Regina Coeli, 12.4.2015).



Imagem "Tomé, o incrédulo" (séc. XII)


«Jesus convida-nos a ver as nossas feridas, convida-nos a tocá-las, como fez com Tomé, para curar a nossa incredulidade. Convida-nos, sobretudo, a entrar no mistério destas feridas, que é o mistério do seu amor misericordioso» (Missa para os fiéis de rito arménio, 12.4.2015).

«Tomé era um teimoso. Não acreditara e encontrou a fé, precisamente quando tocou as chagas do Senhor. Uma fé que não é capaz de se imergir nas chagas do Senhor, não é fé. Uma fé que não é capaz de ser misericordiosa, à semelhança das chagas do Senhor que são sinal de misericórdia, não é fé: é mera ideia, é ideologia. A nossa fé está encarnada num Deus que Se fez carne, que Se fez pecado, que Se cobriu de chagas por nós. Por isso, se queremos acreditar a sério e possuir a fé, devemos aproximar-nos e tocar aquela chaga, afagar aquela chaga e também inclinar a cabeça e deixar que os outros afaguem as nossas chagas» (Vigília de oração na véspera da festa da Divina Misericórdia, 2.4.2016).
Na sua dúvida e ânsia de querer entender, este discípulo bastante teimoso assemelha-se-nos um pouco e até aparece simpático a nossos olhos. Sem o saber, dá-nos um grande presente: deixa-nos mais perto de Deus, porque Deus não Se esconde de quem O procura. Jesus mostrou-lhe as suas chagas gloriosas, faz-lhe tocar com a mão a ternura infinita de Deus, os sinais vivos de quanto sofreu por amor dos homens.



Imagem "A incredulidade de S. Tomé" | Rembrandt (1634)


«Para nós, discípulos, é muito importante pôr a nossa humanidade em contacto com a carne do Senhor, isto é, levar a Ele, com confiança e total sinceridade, tudo o que somos. (…) No termo da sua busca apaixonada, o apóstolo Tomé chegou não apenas a acreditar na ressurreição, mas encontrou em Jesus o tudo da vida, o seu Senhor; disse-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» (v. 28). Far-nos-á bem rezar, hoje e cada dia, estas palavas esplêndidas, como que a dizer-Lhe: Sois o meu único bem, o caminho da minha viagem, o coração da minha vida, o meu tudo» (Cracóvia, Polónia, 30.7.2016).

«Jesus Cristo não Se apresenta, aos seus, sem chagas; foi precisamente a partir das suas chagas que Tomé pôde confessar a fé. Estamos convidados a não dissimular nem esconder as nossas chagas. Uma Igreja com as chagas é capaz de compreender as chagas do mundo atual e de assumi-las, sofrê-las, acompanhá-las e procurar saná-las. Uma Igreja com as chagas não se coloca no centro, não se considera perfeita, mas coloca no centro o único que pode sanar as feridas e que tem um nome: Jesus Cristo» (Santiago do Chile, 16.1.2018).



Imagem "Incredulidade de S. Tomé" | Duccio (c. 1260)


«Apesar da sua incredulidade, temos de agradecer a Tomé, pois a ele não bastou ouvir dizer dos outros que Jesus estava vivo, e nem sequer com poder vê-Lo em carne e osso, mas quis ver dentro, tocar com a mão nas suas chagas, os sinais do seu amor. O Evangelho chama Tomé de «Dídimo» (v. 24), ou seja, gêmeo; e nisso ele é verdadeiramente nosso irmão gêmeo. Pois também a nós não basta saber que Deus existe: um Deus ressuscitado, mas longínquo, não nos preenche a nossa vida; não nos atrai um Deus distante, por mais que seja justo e santo. Não: Nós também precisamos “ver a Deus”, de “tocar com a mão” que Ele tenha ressuscitado, e ressuscitado por nós.
«Como podemos vê-Lo? Como os discípulos: por meio das suas chagas. Olhando por ali, compreenderam que Ele não os amava de brincadeira e que os perdoava, embora entre eles houvesse quem O tivesse negado e O tivesse abandonado. Entrar nas suas chagas significa contemplar o amor sem medidas que brota do seu coração. Esse é o caminho. Significa entender que o seu coração bate por mim, por ti, por cada um de nós.  (…) Do coração comovido de Tomé brota a resposta: «Meu Senhor e meu Deus!». Entrando hoje, através das chagas, no mistério de Deus, entendemos que a misericórdia não é mais uma de suas qualidades entre outras, mas o palpitar do seu coração. E então, como Tomé, não vivemos mais como discípulos vacilantes; devotos, mas hesitantes; nós também nos tornamos verdadeiros enamorados do Senhor!» (Missa do Domingo da Divina Misericórdia, 8.4.2018).

«O Ressuscitado é o Crucificado; e não outra pessoa. Indeléveis no seu corpo glorioso, traz as chagas: feridas que se tornaram frestas de esperança. Para Ele, voltamos o nosso olhar para que sare as feridas da humanidade atribulada» (Mensagem “Urbi et orbi”, 12.4.2020).



Imagem "A incredulidade de S. Tomé" (det.) | Rubens (1613-15)


«Voltemos aos discípulos… Durante a Paixão, tinham abandonado o Senhor e sentiam-se em culpa. Mas Jesus, ao encontrá-los, não lhes prega um longo sermão. A eles, que estavam feridos dentro, mostra as suas chagas. Tomé pode tocá-las, e descobre o amor: descobre quanto Jesus sofrera por ele, que O tinha abandonado. Naquelas feridas, toca com mão a terna proximidade de Deus. Tomé, que chegara atrasado, quando abraça a misericórdia, ultrapassa os outros discípulos: não acredita só na ressurreição, mas também no amor sem limites de Deus. E faz a profissão de fé mais simples e mais bela: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28). Eis a ressurreição do discípulo: realiza-se quando a sua humanidade, frágil e ferida, entra na de Jesus. Aqui dissolvem-se as dúvidas; aqui Deus torna-Se o meu Deus; aqui recomeça a aceitar-se a si mesmo e a amar a própria vida» (Missa do Domingo da Divina Misericórdia, 19.4.2020).

«Ele próprio ofereceu as suas mãos e o seu lado ferido como forma de ressurreição. Ele não esconde nem dissimula as suas feridas; pelo contrário, convida Tomé a tocar com a mão como um lado ferido pode ser fonte da Vida em abundância» (Carta aos padres de Roma, 31.5.2020).


 

Papa Francisco
In L'Osservatore Romano
Imagem de topo: "Incredulidade de S. Tomé" (det.) | Caravaggio (1601-2)
Publicado em 02.07.2020 | Atualizado em 08.10.2023

 

 
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Impressão digital
Paisagens
Prémio Árvore da Vida
Vídeos