«Por detrás da brevidade de cada um dos textos reunidos no livro esconde-se uma profundidade que suscita a reflexão. Seja sob a importância do recomeço, a necessidade da entrega ou o dom da compaixão»: “Rezar de olhos abertos”, o mais recente livro do cardeal José Tolentino Mendonça, foi lido pelo escritor e jornalista e promotor cultural Sérgio Almeida no “Jornal de Notícias”.
Em texto publicado esta terça-feira, o autor assinala que «em vez das preces e súplicas» que habitualmente se associam à oração, o responsável pela biblioteca e arquivo do Vaticano aponta «uma via mais ampla e enriquecedora, assente tanto no diálogo como na partilha».
Rezar, prossegue o artigo, «não tem que ser apenas "um pedido dirigido a uma divindade ou santo"», como se comprova nas «minúsculas peças de oratória», que, «espoletadas por um livro, uma canção ou um acontecimento solto», suscitam «uma interpelação do divino enquanto entidade concreta, muito distante da abstração omnipotente» com que «tantas e tantas vezes» é considerado.
Ao superar «todos os atavismos ou condicionalismos associados ao ato de rezar», o cardeal Tolentino resgata-o «para o quotidiano» e eleva-o «a um lugar no qual a contemplação não exclui a ação».
No seu «caderno de práticas da oração» editado pela Quetzal, o autor sublinha que orar «pressupõe uma desaceleração» nem sempre fácil de conseguir: «Primeiro, porque implica que desviemos o olhar, distraído por múltiplas atenções, e o foquemos num único ponto. Mas também porque essa reza, litúrgica ou não, implica um recolhimento ou introspeção que comporta riscos vários».
A vida, que se expressa em «desejos de comunhão» com os seres humanos e a natureza, e à qual não faltam «momentos de dúvida, fadiga e desânimo», é o subsolo da oração, «instante que se espraia até ao infinito», conclui Sérgio Almeida.