A morte tem inspirado muitos compositores, em particular no que representa enquanto finitude da vida e da grande questão do depois. Hoje sugerimos um exemplo de Requiem assinado por com um compositor contemporâneo, John Rutter, nascido em Londres no ano de 1945.
Rutter tem-se interessado especialmente pela música para coros, quer sejam amadores ou profissionais. É conhecida a grande tradição dos coros ingleses, e é nesta esteira que é preciso escutar a sua música.
Foi no seguimento da morte do seu pai que Rutter empreendeu a composição do seu “Requiem”; nele são reconhecíveis reminiscências do de Gabriel Fauré, que data dos anos 1887-1901. Rutter consultou um manuscrito anotado pela mão de Fauré, enriquecido por observações do compositor sobre a orquestração.
O “Requiem” de Rutter foi escrito entre 1983 e 1985. Esta obra tipicamente inglesa propõe um caminho desde as trevas da dor e do desespero até à luz da esperança, que traduz o progresso do conjunto como de cada movimento do grave ao agudo.
A sua estrutura geral forma como um arco entre duas vertentes, uma ascendente e a outra descendente. Ao mesmo tempo, procura superar as clivagens confessionais com o texto latino da missa romana do “Requiem” e os dois salmos em inglês da liturgia anglicana que Rutter introduziu naquelas páginas.
O plano combina estas duas origens num percurso da morte à vida: 1. “Requiem aeternam” (latim); 2. “From the deep”, Das profundezas clamo a ti (salmo 129); 3. “Pie Jesu”; 4. “Sanctus”; 5. “Agnus Dei”; 6. “The Lord is my sheperd", O Senhor é meu pastor (salmo 22); 7. Lux aeterna” (latim).
Trata-se de um esquema simétrico no qual o tema inicial é retomado na conclusão, mas numa cor luminosa e apaziguadora.
A obra abre com uma coloração grave, com sons indeterminados de percussão, e eleva-se até ao agudo em «et lux perpetua». Este primeiro movimento traça o caminho do que vai ser o que se segue: progressão das profundezas que inspira o sentimento da morte, para os agudos das vozes de sopranos e dos violinos, que orientam para um sentimento de confiante esperança.
O desenho melódico que canta as palavras «Requiem» e «Kyrie» não têm algo de embalador, de doce, quase de acolhedor? Que paz quando os voltamos a escutar no fim da obra, que se extingue suavemente sobre esse sentimento muito reconfortante.
O registo que proponho é de uma gravação pública dirigida pelo próprio compositor, o que confere a esta interpretação um valor particular.