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"Quem é o meu próximo?": Documentário foca drama de refugiados e migrantes

Um advogado sério pergunta a Jesus no Evangelho de Lucas: «Quem é meu próximo?» Jesus responde contando a história de um samaritano que saiu do seu caminho para ajudar uma pessoa necessitada.

No seu novo documentário, "Quem é o meu próximo?", o padre redentorista Charles Vijay Kumar, de Bangalore, Índia, faz a mesma pergunta, e responde os que os nossos próximos são hoje os refugiados e migrantes.

Kumar foi para os EUA em 2014 para estudar cinema e televisão. O seu primeiro documentário foi "Trafficked in the U.S." (Traficado nos EUA), a história de dois sobreviventes do tráfico humano e a sua jornada para uma nova vida.

O novo filme, que conta histórias de migrantes nos EUA e em vários pontos do globo, será concluído em outubro. Inicialmente, o religioso planeava trabalhar numa curta-metragem sobre migrações e respostas cristãs, mas decidiu filmar um documentário mais longo sobre o assunto.

«Abordo a questão como um novato, aberto a ouvir e aprender, de muitas maneiras, como o público a quem quero contar esta história, e isso dá-me uma perspetiva única para moldar essa história», afirmou.

Quando o filme estiver pronto, Kumar quer submetê-lo a festivais de cinema e lançá-lo em exibições privadas.

 

Onde filmou este documentário?

Começámos a filmar principalmente nos Estados Unidos. Eu queria ver a resposta cristã à crise, e por isso entrevistei líderes de igrejas, padres e outros redentoristas que trabalhavam na comunidade de migrantes.

Principiámos em Nova Jersey, com o cardeal redentorista Joseph Tobin, de Newark. Andei com ele para ver o trabalho da arquidiocese pelas comunidades migrantes.

De lá, fui à nossa paróquia redentorista no Bronx [Nova Iorque], onde temos um centro de migração que trabalha em colaboração com uma organização sem fins lucrativos. Entrevistámos quatro ou cinco imigrantes que receberam ajuda do centro. Eles têm uma vida difícil. Um deles era um jovem de 19 anos que tinha chegado a Nova Iorque uma semana antes. Ele falou sobre a sua jornada traiçoeira através do deserto no Arizona.

Depois fomos ao Mississippi. A principal história que tenho vindo a acompanhar extensivamente é a de uma família de imigrantes com cinco filhos nascidos nos EUA, ajudados pelo padre redentorista Mike McAndrew em Greenwood, Mississippi. É a história de um pai imigrante sem documentos que está detido há mais de 18 meses, lutando contra a deportação. As cinco crianças foram afetadas pela ausência do pai. Filmámos a história enquanto o caso se desenrolava.

Também filmamos em diferentes continentes. Para a América Latina escolhi o Brasil. Filmámos em São Paulo com a ajuda dos Scalabrinianos, que têm uma grande missão para os imigrantes, com habitação, assistência jurídica, educacional e de vários géneros.

Para a Ásia, escolhi as Filipinas, pois é um país de emigrantes. Foi uma história única de migração, pois a realidade do trabalhador migrante está muito institucionalizada. Filmámos em Manila e numa área rural, em Batangas.

Para a Europa, fomos primeiro ao sul da Itália, a um lugar chamado Marina Schiavonea, onde os Redentoristas têm uma paróquia. Aí temos uma história de refugiados e das suas famílias que fugiram de seus países na África e na Europa Oriental, e que foram salvos pelos guardas costeiros da Itália.

A tragédia é que as pessoas recebem documentos com estatuto de refugiado para entrar na Itália, mas não há qualquer assistência disponível para eles. É a comunidade católica ou cristã que está a ajudar. A Cáritas ou paróquias individuais estão a reunir recursos e a tentar alimentar essas pessoas, que vivem em condições deploráveis.

Também filmámos em Veneza. Aí filmámos a obra do padre redentorista Luigi, que é capelão da comunidade filipina. Ele ajuda os migrantes que têm várias necessidades, como preencher documentos fiscais ou ajudando-os a encontrar residência.

Gravámos igualmente em Roma. Entrevistei o nosso superior geral, o P. Michael Brehl, para ver a perspetiva dos Redentoristas em todo o mundo. Também filmámos uma história sobre uma igreja que foi transformada para acolher pessoas desabrigadas.

Tive uma equipa que filmou um imigrante filipino em Moscovo. Moscovo tem muita migração interna, mas também migrantes de outros países. Completando o segmento europeu, filmei um bispo de rito oriental da diáspora ucraniana em Paris, que partilhou a sua visão sobre migrantes e refugiados.

Gravámos ainda na África do Sul e ao longo da fronteira de Moçambique. Muitas vezes o mundo sabe da migração da África para a Europa. Mas há um grande número de imigrantes que vão para o sul. A fronteira da África do Sul é conhecida como a mais sangrenta, segundo me disseram.

 

Como pensa que o documentário vai ser recebido?

O objetivo principal do filme é abordar a atual questão de imigração nos EUA e em toda a Europa. Com a atual situação política e de debate, há muita confusão entre as pessoas de boa vontade.

Esse é meu público-alvo - pessoas de boa vontade, qualquer que seja a sua posição. Há uma mensagem para elas neste filme. Estamos a tentar colocar rostos de migrantes nos números. Quando ouvimos que, de acordo com as estatísticas da ONU, havia em 2015  244 milhões de migrantes em todo o mundo, esse número é difícil de imaginar. Além disso, tento mostrar às pessoas que esta não é uma história americana; esta é uma história global.

O objetivo do filme é mostrar uma resposta cristã. Como missionário católico,a  minha fé diz-me que a Igreja tem um papel a desempenhar no mundo. Na história, a Igreja ergue-se sempre pelos valores do Evangelho. Eu quero tomar esse caminho neste filme.

 

O que pensa que o filme pode fazer pelas pessoas que se sentam nos bancos das igrejas?

Este filme não é para a comunidade de imigrantes, mas é sobre a comunidade de imigrantes. Muitas vezes as pessoas nos bancos das igrejas recebem notícias por meio de fontes filtradas, como redes sociais ou canais de notícias preferidos. Esses canais são muito opinativos e têm uma ideologia particular.

Quero apresentar histórias concretas de migrantes. Deixar que as pessoas vejam as histórias dos migrantes e perguntar-lhes o que é que a fé nos chama a fazer.

 

O que é que aprendeu com esta experiência até agora?

Mudou-me muito. Como cineasta que tenta contar uma história global, há uma tendência para falar de generalidades e conceitos. Quando me sento e falo com uma pessoa, é um encontro. Eu compreendo a sua luta. Isso ajuda-me a a estar em contacto com a minha humanidade.

Também me ajuda a entender a minha vocação sacerdotal. O meu trabalho está muitas vezes confinado ao santuário, mas as pessoas necessitadas estão longe do santuário. As boas notícias têm de ser levadas até elas. Esta é uma maneira pela qual eu posso levar a Igreja às pessoas necessitadas.









 

Peter Tran
In National Catholic Reporter
Trad.: SNPC
Imagem: 131181461/Bigstock.com
Publicado em 10.10.2023

 

 
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