Os redatores bíblicos não se contiveram quando tinham de atacar os seus opositores, e foram notáveis quando se tratava de derrubar pretensiosos e ingratos. As pessoas que se dedicam a redigir discursos para políticos e os criativos de publicidade podem muito bem aprender com os mestres de retórica da Bíblia. Na primeira leitura de hoje (Isaías 7,1-9) o profeta denomina os conspiradores da realeza contra Judá de «tições fumegantes» ,e tranquiliza o rei Acaz: «Tal não acontecerá nem se realizará».
Jesus desencadeia a angústia em Betsaida e Corozaim por não responderem às suas pregações e grandes feitos (Mateus 11,20-24). Compara Cafarnaum a Sodoma, nome sinónimo de iniquidade, porque não se arrependeu. A frustração sente-a logo no início do seu ministério na Galileia. Ao chegar a Jerusalém, abate-se em lágrimas pela cidade, porque os habitantes não aproveitaram o tempo da sua visita, e por ignorarem os avisos que lançou sobre os desastres que estavam por acontecer.
Dizemos que queremos profetas e figuras da sabedoria que guiem a sociedade a ser proativa em relação aos problemas antes que se transformem em crises, mas a história mostra que a mudança real acontece com relutância, frequentemente, tarde demais. Consideremos, por exemplo, o aviso claro do papa Francisco, há quase cinco anos, sobre a necessidade urgente de mudanças nas políticas para proteger o meio ambiente. Ou como alguns países estão a opor a política à ciência em plena difusão descontrolada do vírus e bloqueio económico, devido à pior pandemia que passou até agora pelas nossas vidas.
A Palavra de Deus está presente e é oportuna. À medida que o Lecionário proclama as suas lições das Escrituras em ciclos de três anos, há uma Voz Viva que está nos fala, que confortando-nos, quer avisando-nos. As intervenções do papa Francisco ajudam-nos a escutar, em diálogo, a Palavra e os acontecimentos mundiais. A nossa resposta livre faz parte desse diálogo. Não precisamos de ficar à espera que os líderes ajam; os protestos planetários mostram que as pessoas comuns, especialmente os jovens, estão mais sintonizados com as crises do que os governos.
Os Evangelhos, como a história, a arte e a ciência, dizem-nos para sermos corajosos e criativos quando chega a hora de navegar de sistemas falidos para novas formas de pensamento, de maneira a enfrentar os desafios. Jesus tem sempre Boas Novas, parábolas e o exemplo do seu amor e perdão para nos mostrar como seguir em frente quando o medo e o fatalismo paralisam a esperança ou propõem soluções extremas para o árduo trabalho árduo inerente à mudança real. Como sempre, há profetas entre nós, e há obras poderosas que estão a ser realizadas, se tivermos olhos para ver e ouvidos para escutar para além do ruído e da informação errada que abunda. Isaías ensina-nos a confiar em Deus ao enfrentarmos cada crise: toma cuidado, permanece tranquilo e não tenhas medo; não deixes a tua coragem falhar.