Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes
Entrevista

A surpresa de Manoel de Oliveira com a atribuição do Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes

Entrevistado pelo Expresso (8.12.2007), o cineasta fala das suas preocupações espirituais e revela que foi surpreendido pela atribuição do Prémio. Breve apontamento da conversa com Maria Bochicchio.

 

Expresso
Todo o seu cinema dá conta, se não de uma inquietação religiosa como a de Régio, que era seu amigo, pelo menos de uma preocupação espiritual, o que, aliás, já este ano lhe valeu o prémio Manuel Antunes. Quais são, hoje, as suas maiores preocupações espirituais?

Manoel de Oliveira
A minha maior preocupação espiritual é conhecer o mundo, o princípio da nossa natureza. A palavra de Deus. E o que significa Deus? Significa Criador. Ninguém nasceu por vontade própria e o Criador deu-nos a alternativa de poder morrer quando quisermos. Podemos resistir até ao fim ou matarmo-nos. Toda a natureza, como hei-de dizer... material, tudo o que é matéria, é para morrer - perecer ou transformar-se é a mesma coisa. Há um poeta, o Teixeira de Pascoaes, que disse esta coisa terrível e ao mesmo tempo compreensível: o espírito é como o ar que respiramos. Portanto, o espírito é uno e universal e cada um respira o espírito que faz a sua personalidade. Quer dizer que quando se expira, deixa-se a personalidade, perde-se a personalidade. É custoso porque nós defendemos o eu à «outrance». A própria natureza defende o eu. Quer dizer, o eu pessoal, o eu animal e, digamos, o eu da espécie.

Expresso
Ficou surpreendido quando recebeu o prémio Manuel Antunes?

Manoel de Oliveira
Fiquei muito surpreendido. E isto porque eu sou um pobre pecador, como qualquer outro. E se fui educado católico, não posso escapar à dúvida. Mesmo os grandes santos tiveram grandes dúvidas e acho que foi São Paulo quem disse: "Se Jesus Cristo não ressuscitou, toda a nossa fé é vã". Este é um mistério. Um mistério em que Buñuel, por exemplo, não acreditava, porque não acreditava na existência de um Criador que programasse uma vida humana terrível e tão perversa, toda feita de ódios, invejas, pecaminosa, digamos.

© Expresso

Publicado em 13.12.2007

 

 

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