O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?
Sem desinvestimento na consolidação do meritório trabalho que a Comissão Episcopal, o Secretariado Nacional e os organismos eclesiais conexos têm desenvolvido, no sentido da valorização espiritual da componente estética da vida humana e da articulação das iniciativas e dos referentes culturais no interior do mundo católico, reputo de urgência maior:
- combater os hábitos e os engodos da mera atitude reativa (quando os protagonistas da comunicação social e da agenda cultural entendem conceder espaço à nossa voz ou quando nos sentimos atingidos por posições e formulações adversas); e, contra a inércia dos preconceitos alheios e das inibições próprias, "passar à ofensiva" no debate de ideias e na manifestação de criatividade, isto é, tomar sistematicamente a iniciativa do discurso de interpelação e de proposta nos meios académicos, filosóficos, científicos e artísticos;
- sem iludir os limites (aliás tão injustos) do impacto que a ação da Rádio Renascença, da agência Ecclesia e da imprensa católica alcança na opinião pública, encontrar e ativar novos e eficazes meios de visibilidade no espaço público, conquistando maiores efeitos de presença e de afirmação, de motivação e de adesão;
- tornar efetivo e contínuo (não apenas formalmente reconhecido ou conjunturalmente solicitado pela Hierarquia) o papel dos leigos intelectuais na vida da Igreja, abrindo-lhes novos órgãos de reflexão e opinião e novos domínios de intervenção - num processo que poderia ter por marco fundacional a realização (porventura em Fátima) de um grande Congresso que convocasse pensadores, cientistas, artistas, escritores e jornalistas.
Este depoimento integra a edição de novembro de 2011 do "Observatório da Cultura" (n.º 16).