Com um casamento feliz e mãe de três filhos, já crescidos, Alice Howland é uma prestigiada professora de linguística. Um dia, durante uma lição na universidade, acusa alguns momentos de vazio e de esquecimento, aos quais, no momento, dá pouca importância. São, no entanto, os primeiros sinais de Alzheimer, que se manifesta de forma precoce, mas está destinado a aumentar.
A partir desse momento, começa para Alice uma existência totalmente nova. Para ela e para a sua família. Trabalho, relações, sentimentos: tudo é filtrado na nova realidade. Abre-se um cenário, dentro do qual Alice é chamada a gerir-se a si própria e a viver a “doença” sem a sofrer.
O co-realizador, Wash Westmoreland, refere que em dezembro de 2011 ele e Richard Glatzer (o outro realizador) receberam um telefonema no qual dois produtores os convidavam a espreitar o romance “Still Alice”, escrito por Lisa Genova.
O tema da obra (uma forma precoce de Alzheimer) assustava bastante. Porém, um neurologista que tinha observado Richard, devido a algumas dificuldades na fala, declarou que julgava tratar-se de esclerose lateral amiotrófica. A partir desse momento, a relação com o livro foi mais forte e intensa, desembocando na redação do argumento e na presença de Julianne Moore no papel de protagonista.
A relação entre cinema e doença é, como se sabe, complicada e contraditória. Pode confiar-se a um ator a tarefa de infundir verdade a uma ficção; ou pode tomar-se alguém verdadeiramente doente e fazê-lo “recitar”. Em ambos os casos arrisca-se o artificial, o patético, o convencional. Ou então recorre-se a prestações de altíssimo nível.
É preciso dizer que no papel de Alice, Julianne Moore (vencedora de um Óscar e de um Globo de Ouro para melhor atriz) restitui o drama com secura e simplicidade exemplares. Nenhuma retórica, nem divagações nem pietismos.
O guião compõe um quadro dentro do qual cada componente encontra a colocação certa: a mãe, o marido, os três filhos, a casa, a profissão progridem juntamente com a raiva, estupefação, impreparação, resignação, reação descontrolada.
Num amontoado de sentimentos, Alice toca ao de leve a ideia de pôr fim à sua vida, gesto que é superado perante as imagens dos familiares.
A narrativa tem uma densidade que prende imediatamente o espetador, sem gritar, sem estrépito, sem denunciar, fazendo apelo à necessidade de manter elevado o nível de dignidade, humanidade, capacidade de acreditar no valor da vida. Um exemplo de seriedade narrativa que não faz apelo a chantagens emocionais ou a lacrimosos artifícios para envolver a audiência.
Realizado em 2014 e com 97 minutos de duração, “O meu nome é Alice” (disponível na plataforma HBO) é um filme que se aconselha, e a partir do qual podem estabelecer-se debates sobre os temas nele abordados e sugeridos, como, por exemplo, a doença e os seus reflexos na vida individual e familiar.