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O golo mais belo: Campeão de futebol testemunha S. João Paulo II

Depoimento sobre S. João Paulo II, no centenário do nascimento do papa polaco, do futebolista argentino Abel Balbo, que como avançado profissional marcou perto de 150 golos, e venceu uma Liga italiana, uma Liga Europa e uma taça Libertadores (equivalente sul-americano da Liga dos Campeões).

João Paulo II foi antes de tudo para mim uma testemunha. A 30 de janeiro de 1996 participei na missa por ele celebrada às sete horas da manhã na sua capela privada, juntamente com os futebolistas argentinos que naquele momento jogavam em Itália e com todos os nossos familiares. Recordo que alguns dias depois o papa partiria para a Guatemala, Nicarágua, El Salvador e Venezuela. Depois da missa, pedi-lhe para rezarmos juntos pelas nossas famílias e também pelos nossos povos latino-americanos, sobretudo pelas pessoas mais carenciadas. Mas não creio que possa encontrar as palavras certas para descrever o que significou para mim, para todos nós, aquele encontro centrado antes de tudo na celebração da Eucaristia.

As palavras que nos dirigiu familiarmente João Paulo II naquela ocasião apelaram, como futebolistas conhecidos, a uma grande responsabilidade. Ele deu-nos confiança recebendo-nos na sua casa. Disse-nos para sermos testemunhas no nosso peculiar ofício. Comigo estavam amigos antes mesmo de serem colegas: Gabriel Batistuta, Javier Zanetti, Nestor Sensini, Antonio Chamot e também Daniel Fonseca, que é uruguaio, mas que naquele momento era meu companheiro de equipa na Roma.



Neste meu testemunho, nunca forçado, sustentou-me precisamente o exemplo de João Paulo II, que convidava sempre a não ter medo de testemunhar Cristo em qualquer ambiente



Alguns meses depois, participei, na presença de João Paulo II, num encontro de jovens cristãos de Roma no auditório Paulo VI. Tendo ao meu lado a minha mulher e o meu filho, falei publicamente da nossa experiência como família cristã. Confesso que senti, enquanto falava, que pertencia verdadeiramente, até ao fundo, à grande família da Igreja. Comovi-me mais do que ao marcar um golo: talvez seja banal e retórico afirmá-lo. Senti a minha indignidade como pessoa, e uma grande responsabilidade. Depois tive de nova a oportunidade de voltar ao papa, em fevereiro de 1988, para pedir uma bênção para o meu filho Federico.

Pensei, nestes anos, de ter tido em comum com João Paulo II o facto de, no fundo, nos termos tornado romanos “de adoção”: ele polaco, eu argentino. Ele como bispo de Roma, e eu, muito mais modestamente, como avançado-centro da equipa de futebol. Mas creio que também esta “romanidade”, que rima com universalidade, me uniu a ele, de alguma forma.

Nasci numa pequena cidade da Argentina, numa família muito simples, que me ensinou a viver a fé, e cresci a jogar futebol no pequeno campo da paróquia. Recordo que quando João Paulo II foi à Argentina, em abril de 1987, caminhei pela estrada para ir vê-lo com a Lucila, que depois se tornou minha mulher. Eu era muito jovem, mas senti fortemente o compromisso de testemunhar a fé também com o meu ser futebolista, sem ostentações, mas também sem me envergonhar de mostrar-me cristão. Julgo que deve ser um facto natural. Devo dizer que, sobretudo no âmbito da nação argentina, vivi sempre muito bem este sentimento religioso. Em suma, nunca arrastei ninguém para a missa e nunca obriguei ninguém a rezar: mas alguns meus companheiros, vendo-me, pediam-me para ir comigo à igreja ou uniam-se espontaneamente à minha oração.

É verdade que, algumas vezes, também fui gozado por causa da minha fé: porque rezava sempre antes de um jogo – nunca, porém, para ter a “graça” de marcar um golo… –, e porque fui sempre à missa, mesmo quando jogava fora, procurando uma igreja próxima ao hotel onde a minha equipa ficava alojada. Mas nunca foi um problema ser gozado.

Neste meu testemunho, nunca forçado, sustentou-me precisamente o exemplo de João Paulo II, que convidava sempre a não ter medo de testemunhar Cristo em qualquer ambiente. Sei que há colegas que gostam de fazer ver-se com “top models” ou estrelas de rock, enquanto eu, nas entrevistas, falei sempre de Nossa Senhora, sobretudo da Virgem de Luján, padroeira da Argentina. Compreendo que nunca serei uma pessoa da moda, mas cada um tem o seu estilo de vida. E para mim, o meu está-me muito bem.


 

Abel Balbo
In L'Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 29.07.2024

 

 
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