Na raiz da reforma litúrgica de Paulo VI, introduzida em 1964, havia a vontade de favorecer a participação consciente, ativa e fácil dos fiéis na liturgia. Para quem ainda se consegue recordar como se fosse ontem, a mudança foi uma revolução absoluta.
O povo tornava-se protagonista, e não apenas “espetador” do rito, do qual muitas vezes não compreendia sequer o significado de fórmulas e respostas, a custo aprendidas de memória, com frequência de maneira errada.
Uma revolução que encontrou muitas resistências e levantou outras tantas polémicas, ainda hoje não adormecidas, tal como entusiasmos irreprimíveis. De uns e de outros Paulo VI estava absolutamente consciente.
Ao falar na audiência geral de 17 de março de 1965, quase exatamente um ano depois da introdução da reforma, sublinha que «a nova ordem devia ser diferente, e devia impedir e sacudir a passividade dos fiéis presentes na santa missa».
«Primeiro bastava assistir, agora é necessário participar; antes bastava a presença, agora são necessárias a atenção e a ação; antes qualquer um podia dormitar e talvez tagarelar; agora não, tem de escutar e orar», aponta.
E prossegue: «Pode acontecer que esta admiração e esta espécie de santa excitação se acalmem e se distendam rapidamente, rumo a um novo tranquilo costume. A que coisa não se habitua o ser humano? Mas é de acreditar que também não será menosprezada a perceção da intensidade religiosa que a nova forma do rito reclama».
Por isso, conclui Montini, «esta novidade litúrgica, este renascimento espiritual, não podem acontecer sem a vossa voluntariosa e séria participação».
Era verdade então, e é verdade hoje. De tal maneira que há dias o papa Francisco reiterou que a missa «não pode ser escutada, como se fôssemos apenas espetadores de algo que nos escorrega sem nos envolver», antes «é sempre celebrada, e não só pelo sacerdote que a preside, mas por todos os cristãos que a vivem».
A constituição “Sacrosanctum Concilium”, do Concílio Vaticano II, realçou de maneira inequívoca como «Cristo se torna presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: daqui deriva para nós, cristãos, a necessidade de participar nos divinos mistérios».
«Um cristianismo sem liturgia, ousarei dizer que talvez seja um cristianismo em Cristo. Até no rito mais despojado, como aquele que alguns cristãos celebraram e celebram nos locais de reclusão, ou na ocultação de uma casa durante os tempos de perseguição, Cristo torna-se realmente presente e dá-se aos seus fiéis», continuou Francisco.
Desta maneira, é a nossa própria vida que deve «tornar-se culto a Deus». «Que este pensamento nos ajude a todos quando se vai à missa ao domingo: vou rezar em comunidade, vou rezar com Cristo que está presente, quando vamos à celebração de um Batismo, por exemplo».
Cristo está presente – «“mas, padre, isso é uma ideia, uma maneira de dizer”: não, não é uma maneira de dizer; Cristo está presente, e na liturgia tu rezas com Cristo junto de ti».