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Música: “Missa sobre o mundo”

A obra “Missa sobre o mundo”, para órgão e voz recitante, de Alfredo Teixeira, a partir de fragmentos do texto homónimo de Teilhard de Chardin (1881-1955), «um dos textos místicos e teológicos mais lidos e comentados, ao longo do século XX», foi estreada este sábado, 18 de setembro, pelo Ensemble São Tomás de Aquino, em Lisboa.

A recriação musical, dividida em cinco partes – “Oferenda”, “O fogo sobre o mundo”, “O fogo no mundo”, “Comunhão”, “Oração” –, ao conservar «a sua estrutura eucológica fundamental, procurou o diálogo, pouco frequente, entre a palavra dita e a matéria sonora do órgão», sublinha Alfredo Teixeira nas notas sobre a composição, que abaixo transcrevemos na íntegra.

No concerto de estreia de “Missa sobre o mundo”, realizado na igreja de S. Tomás de Aquino, por ocasião do 50.º aniversário do seu órgão de tubos Pels Van Leeuwen, foi também interpretada a cantata “Wir müssen durch viel Trübsal in das Reich Gottes eingehen” (BWV 146), de Bach.

Além de compositor, Alfredo Teixeira diretor do Instituto de Estudos de Religião da Universidade Católica, é professor associado da Faculdade de Teologia, integrando a sua Direção, e doutor em Antropologia.

Constituído em 2015, o Ensemble São Tomás de Aquino é «um grupo de composição variável formado por jovens músicos profissionais».



É essa meditação sobre o universo, enquanto altar e espécie eucarística, que se transcreve neste hino. Encontramos ecos da teologia eucarística católica do início do século XX, marcada pela espiritualidade da adoração, da consagração e do envio ao mundo. Mas, também, uma recriação moderna da teologia do Cristo cósmico, alfa e ómega, plenitude da Criação



“Missa sobre o mundo”
Texto de Alfredo Teixeira

Os primeiros esboços deste texto terão surgido nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, nas proximidades de Chemin des Dames, esboço incluído no escrito Le Prêtre, de 1918, quando Pierre Teilhard de Chardin ainda servia o exército francês. Retomou e desenvolveu essas ideias, em 1923, durante uma expedição científica, na China, no deserto de Ordos, explorando sítios do Paleolítico.

O cenário – as estepes desérticas da Mongólia interior.  A circunstância – a privação de pão, vinho ou altar para a celebração da Missa. O ofício – um padre paleontólogo, perscrutador da espiritualidade do mundo, teólogo da matéria. Um texto – o género eucológico (termo que descreve, em geral, os géneros literários da oração litúrgica) favorece esse encontro entre o exercício orante de comunicação com Deus e a reflexão sobre a Criação, como lugar de comunhão.

Tendo em conta informações recolhidas nas suas cartas, é provável que o texto tenha sido inspirado, particularmente, na vivência da Festa da Transfiguração, no dia 6 de agosto. Num contexto de diáspora e desnudamento espiritual, sem matéria eucaristiável – o pão e o vinho –, sem altar, é o cosmo que se transfigura. É essa meditação sobre o universo, enquanto altar e espécie eucarística, que se transcreve neste hino. Encontramos ecos da teologia eucarística católica do início do século XX, marcada pela espiritualidade da adoração, da consagração e do envio ao mundo. Mas, também, uma recriação moderna da teologia do Cristo cósmico, alfa e ómega, plenitude da Criação. Nesta cosmovisão cristã, a Missa toma as proporções do universo, como casa comum.

A recriação musical que aqui se apresenta, a partir de excertos deste texto de Teilhard de Chardin, conservando a sua estrutura eucológica fundamental, procurou o diálogo, pouco frequente, entre a palavra dita e a matéria sonora do órgão. A dicção do texto, busca a diversidade de ritmos que o habitam. A escrita para órgão encena o texto, sublinha as suas cores, sugere os climas ou comenta as ideias. O resultado é esse encontro entre a fragilidade de uma voz e a força de um poderoso engenho de sons. Na esteira do pensamento de Teilhard de Chardin, esse encontro é a metáfora da transformação espiritual da matéria.


 

Edição: Rui Jorge Martins
Imagem: Mihailo K/Bigstock.com
Publicado em 09.10.2023

 

 

 
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