A criação artística integra e configura o espaço das igrejas, assim como a «coreografia da celebração cristã», vai defender o arquiteto João Norton de Matos na intervenção que profere na iniciativa “As Conferências do Museu”, que decorrem hoje e amanhã no Funchal.
«A mediação artística aparece como um dom a acolher nas fronteiras, entre o sagrado e profano, o humano e o divino, o culto e a cultura, o estilo e o símbolo, a presença e a palavra, o corpo e o espírito, a igreja e a sociedade», sublinha o padre jesuíta.
Na comunicação “Artes e arquitetura na mediação do sagrado”, o religioso sustentará que «é através do exercício de discernimento cristão, evangélico», que se passa «a identificar o sagrado como espírito de santidade».
É este espírito através do qual as comunidades cristãs «podem reconhecer-se e sentir-se inspiradas diante da autenticidade de expressões artísticas singulares, independentemente da maior ou menor explicitação dos símbolos da fé, e até na sua ausência».
Por seu lado, o arquiteto Bernardo Pizarro Miranda sublinhará que «mais do que o processo de reatualização arquitetónica do edifício igreja, importa hoje interrogar nessas construções, a compreensão atualizada do mistério cristão».
«As nossas igrejas são hoje edifícios informados por um processo de renovação espiritual associado ao sentido e realidade da tradição da Igreja, tradição aqui entendida como o espírito da liturgia?», questionará o investigador.
Na intervenção em que se interrogará sobre se «existe uma arquitetura religiosa», Bernardo Miranda defenderá que «pensar e desenhar um lugar para a liturgia cristã deveria caber naquilo que é primeiro em matéria de espaço litúrgico: as pessoas que se reúnem e aquilo que fazem em conjunto em razão da sua fé comum».
«A herança cultural e ritual, como refere o jesuíta francês Joseph Gelineau (1920-2008) vem em segundo lugar. O sujeito da liturgia, esse, deve ser compreendido na assembleia dos homens reunidos em seu nome», assinala.
“Arquitetura religiosa em Portugal: Séculos XX e XXI” é o assunto que vai ser apresentado por João Alves da Cunha, membro do Grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, que também conta com os anteriores intervenientes como colaboradores.
O arquiteto destacará que «ao longo do século XX, e contrariamente ao que se pode precocemente pensar, Portugal assistiu à construção de centenas de igrejas e capelas em todo o seu território, no que foi uma época construtiva sem paralelo na história da arquitetura religiosa portuguesa».
«Viveram-se tempos profundamente marcados por uma crescente aceleração das reconfigurações sociais e culturais, que se refletiram inevitavelmente na arquitetura, caracterizada assim por mudanças concetuais sucessivas - algumas vezes opostas -, que lhe conferiram um percurso com uma diversidade e originalidade sem paralelo», acentua.
Neste século é por isso possível identificar «uma sequência de etapas de características distintas, formalmente materializadas nos edifícios religiosos contemporâneos, cuja leitura cronológica permite uma melhor compreensão» de um tempo «historicamente próximo, mas ainda pouco compreendido».
Na sequência do cancelamento pela TAP de voos nos últimos dias, devido ao vento forte, foi necessário reprogramar a realização das ‘As Conferências do Museu’, que iriam decorrer nos dias 1 e 2 de março.
Prevendo-se uma melhoria do estado tempo e regularização dos voos no aeroporto Cristiano Ronaldo, o Museu decidiu agendar as conferências para os dias 2 e 3 de março (sexta e sábado).
O programa mantém-se globalmente, embora com reajustes de horários, que serão divulgados no site e redes sociais do evento.
Como alteração de fundo apenas se verifica a não realização da intervenção de abertura, pelo P. José Tolentino Mendonça. A conferência decorrerá no Museu de Arte Sacra a 4 de abril, pelas 18h00.