«Quis fazer esta riqueza para Deus», «como uma pessoa simples que faz o ramo mais bonito para Deus»: foi com estas palavras que o Mestre Manuel Cargaleiro apresentou, a 3 de agosto, o painel de azulejos instalado ao longo das laterais da capela da Misericórdia, na paróquia de S. Tomás de Aquino, em Lisboa.
Realizado na fábrica Viúva Lamego, o painel em cerâmica, material de elevadíssima resistência, apresenta um motivo que se repete, e que é, segundo Manuel Cargaleiro, «uma cruz desconstruída», refere uma nota de imprensa enviada hoje pela paróquia ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
«Os azulejos, em branco, vermelho, verde, amarelo e azul vibrantes, que surgem em losangos e círculos, são pontuados, aqui e ali, por um triângulo revestido a folha de ouro. Esse detalhe permite também leituras distintas da obra, consoante a iluminação que recebe», explica o texto.
«Não sabia o que ia fazer, mas sabia que deveria ser três coisas: algo simples, algo meu e uma riqueza para Deus», declarou o pintor e ceramista português de 93 anos, após a bênção da obra, pelo pároco, P. Nélio Pita, CM, na sessão de apresentação, restrita devido às medidas para contenção do Covid-19.
«Fazer isto é como escrever uma oração», assinalou Manuel Cargaleiro sobre o painel que ofereceu à paróquia, no qual pretendeu expressar uma mensagem positiva a cada pessoa que entra na capela, para que «sinta a aproximação a Deus, que está naquele sacrário».
A obra de Mestre Cargaleiro enriquece a arte contemporânea com que a paróquia tem dotado a igreja, depois dos painéis de Ilda David no presbitério, evocativos de S. Tomás de Aquino e de S. Vicente de Paulo.
Nascido em Vila Velha de Ródão, Manuel Alves Cargaleiro, autor de peças em cerâmica, pintura, gravura, guache, tapeçaria e desenho, foi condecorado por três presidentes da República, Ramalho Eanes, Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa, tendo recebido inúmeras distinções em Portugal e no estrangeiro.
Manuel Cargaleiro, que se juntou ao Movimento de Renovação de Arte Religiosa após a fundação, ocorrida em 1953, assinou o painel de azulejos policromados da igreja de Santo António de Moscavide (1956).
A obra, não figurativa, foi elogiada na época por conseguir «tirar um efeito surpreendente de cores e matéria rica, mostrando deste modo a possibilidade que grandes painéis de azulejo oferecem quando integrados em exteriores de arquitetura moderna», o que para o país «tem um significado especial, porquanto se retoma uma tradição antiga com fortes raízes em Portugal».
D.R.
© Luís Ferreira
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