A editora francesa Bayard Service publicou recentemente um livro assinado por uma especialista em caminhos de peregrinação, Gaële de La Brosse, que oferece «10 chaves» para compreender o espaço de uma igreja cristã.
Qual é a diferença entre uma catedral e uma basílica? «Porque é que há uma luz vermelha junto ao sacrário? De onde vem o nome “altar”? Porque é que se costuma acender uma vela? Como é que se pode reconhecer cada um dos 12 apóstolos? O que significa o gesto do sinal da cruz?
As respostas a estas dúvidas, que podem parecer evidentes para alguns, estão hoje longe de serem conhecidas de todos. Para responder a muitas interrogações relacionadas com os espaços dos santuários, foi concebido o livrinho “10 clés pour cheminer en ce lieu” (10 chaves para caminhar neste lugar).
A obra, destinada a ficar disponível em capelas, igrejas, catedrais, santuários e outros espaços religiosos cristãos franceses, tem por objetivo facilitar o acolhimento dos visitantes – peregrinos, turistas ou curiosos.
A publicação é vendida por lotes às estruturas eclesiais que a desejarem, e estas poderão distribui-la aos visitantes, gratuitamente ou pedindo uma contribuição livre. Estão previstas duas modalidades: uma versão genérica e outra personalizada, diferenciada na fotografia da capa e na segunda página, correspondente ao editorial.
Os percursos propostos na brochura visam mobilizar a perceção sensorial dos visitantes através dos cinco sentidos, convidando-os a fazerem também eles não só um caminho exterior, como interior, passando da observação ao envolvimento interior.
«Caro visitante. Acabastes de entrar neste santuário. Sois, talvez, um peregrino a caminho de Compostela ou um amante do património, um fiel deste lugar ou um visitante ocasional. Qualquer que seja o seu percurso, crente ou não crente, estamos felizes por o acolher e oferecer este livrinho para acompanhar o seu caminho»: são estas as palavras de abertura da publicação, assinadas pela autora.
O guia pode ser seguido de acordo com o desejo do leitor, até porque «duas ou três» da dezena de chaves de interpretação poderão ser suficientes, numa igreja em particular ou em qualquer outro.
Gaële de La Brosse convida o visitante a entrar «em diálogo» com o espaço, dado que as «suas pedras são vivas» e guardam «múltiplos segredos» e «tesouros a partilhar». «Bom caminho neste refúgio de paz, que o convida a marcar uma pausa na sua vida», conclui.
«Onde estou?» é a primeira das chaves, que explica conceitos como abadia, basílica, catedral, capela, igreja paroquial e oratório, todos lugares sagrados, isto é, à parte, segundo a origem do termo latino “sacer”.
Na segunda secção, “Nomear para compreender”, apresentam-se alguns dos elementos do mobiliário litúrgico – ambão, altar, círio pascal, cruz, sacrário, entre outros – e espaços da igreja, como o coro, nártex, nave, sacristia e transepto.
Um caminho com os sentidos é a proposta do terceiro capítulo – todos, exceto o último, ocupam duas páginas –, após elucidar o significado do sinal da cruz e justificar a orientação das igrejas.
“Caminhar com o corpo” e “Caminhar com as obras de arte” são os passos seguintes, sendo neste que se descrevem os atributos que caracterizam os apóstolos na iconografia.
A sexta parte apela ao visitante a «marcar uma pausa»; com efeito, «as igrejas são ricas em símbolos que convidam a passar do visível ao invisível», mediante imagens que eram familiares aos crentes da época em que os espaços foram construídos, mas cujo sentido se tem perdido.
«Tomo o tempo para respirar profundamente. Fecho os olhos e faço novamente silêncio. Esse silêncio abre em mim um espaço interior. Permaneço imóvel ou faço um gesto. Por exemplo, um gesto de oferta estendendo os braços, abertas as palmas das mãos», lê-se.
O cordeiro, o alfa e o ómega, a barca, a escada, a estrela, o labirinto, o pão e o peixe são alguns dos símbolos cristãos explicados nesta secção.
A sétima chave oferece sugestões para «tentar a viagem interior»; por exemplo, pensar em algumas pessoas em particular, nomear pessoas que sejam importantes, deter-se sobre uma questão que preocupe o visitante, concentrar-se num determinado pensamento ou citação, contemplar uma obra de arte, procurar deixar de pensar e assim dar espaço a uma dimensão outra da interioridade, exprimir gratidão.
No seguimento da etapa anterior, são propostos quatro textos para meditar: uma intervenção sobre a felicidade, do papa Francisco, a parábola dos pés na areia, um poema de Paul Claudel sobre a mãe de Jesus e uma reflexão de Santa Madre Teresa de Calcutá sobre o amor concreto às pessoas necessitadas.
Fazer elevar uma prece é o tema da nona chave, onde se encontra o Pai-nosso, a Ave Maria e a oração pela paz de S. Francisco de Assis. Na página seguinte, como usar os cinco dedos para fazer o ponto da situação sobre a vida pessoal.
Por fim, «preparar-se para a partida», com a sugestão de alguns questionamentos: Porque é que entrei neste santuário? Quais são os sentimentos que experimentei nesta visita? O que é que mais me marcou? Senti que o espaço tinha alguma coisa a dizer-me? Que questões me sugeriu? A pausa neste santuário ajudou-me num momento difícil que atravesso ou num questionamento que me preocupa?