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«Os cálculos que conquistaram a Lua»: Jornal do Vaticano evoca Katherine Johnson

Se não tivessem sido os seus cálculos, os EUA não teriam ido à Lua, pelo menos não em 1969, mas mais tarde. Morreu esta segunda-feira, 24 de fevereiro, aos 101 anos, a afroamericana Katherine Johnson, matemática, informática e física, que deu um contributo decisivo para a ciência da aeronáutica norte-americana e para os programas espaciais.

Ao serviço da NASA tinha sido colocada a trabalhar, ela que era de cor, numa secção separada dos homens, brancos. Mas o seu extraordinário talento e a sua dedicação ao trabalho contribuíram para que fosse ultrapassada qualquer barreira discriminatória. A tal ponto que não havia projeto (incluindo o de ir à Lua) que, antes de ser aprovado, não fosse submetido à sua verificação. O mínimo erro num cálculo podia determinar o falhanço de toda uma missão espacial.

E quando, finalmente, foi integrada na equipa dos brancos, a sua mente – como escreve o “The New York Times” – concretizou novos prodígios: calculava as trajetórias das órbitas, parabólicas e hiperbólicas, as janelas de lançamento e os percursos de regresso de emergência para muitos voos.

Foi precioso o seu contributo no contexto das primeiras missões da agência espacial dos EUA de John Glenn e Alan Shepard. Numa entrevista, ao recordar os tempos passados, afirmou: «A segregação estava espalhada nesse tempo. Investigadores e técnicos brancos de um lado, e nós de outro. Quando me transferiram para o departamento que se ocupava da “Investigação e voo espacial”, e me sentei entre muitas outras pessoas, um senhor junto a mim comoveu-se. Uma bela recordação».

Katherine Johnson realizava a maior parte dos cálculos com papel e caneta. «O importante é que estejam corretos», costumava dizer. O fim último, que se identificava no orgulho de quem fazia aqueles cálculos, era sempre o mesmo: trazer os astronautas de volta à Terra.



«Consegui meter a saia no computador», dizia, em explícita referência às discriminações que conduziam à marginalização das mulheres também no campo da ciência e da tecnologia



A partir de 1979, antes de se retirar da NASA, a biografia de Katherine recebeu um lugar de honra na lista dos afroamericanos que se distinguiram no campo da ciência e da tecnologia. E a 16 de novembro de 2015 o então presidente dos EUA, Barack Obama, conferiu-lhe um dos mais altos reconhecimentos, a medalha presidencial da liberdade.

Nela e na sua luta para afirmar o talento próprio a despeito das discriminações inspira-se o filme “Hidden figures” (“Elementos secretos”), de 2016, extraído do romance de Margo Lee Shetterly.

Em resumo, depois de muito ter semeado, inclusive a nível de visibilidade junto da opinião pública, Katherine Johnson teve maneira de recolher os seus frutos. «Consegui meter a saia no computador», dizia, em explícita referência às discriminações que conduziam à marginalização das mulheres também no campo da ciência e da tecnologia.

A missão de Katherine Johnson foi dupla: consistiu não só em ir à conquista do espaço, mas também dos espaços, até então apanágio exclusivo dos homens, nos quais as mulheres pudessem exprimir em plena liberdade o seu potencial e capacidades.

Quando lhe foi pedido, já reformada, qual a herança que pensava ter deixado, respondeu que estava convicta de que muitas mulheres, seguindo o seu exemplo, teriam ficado muito determinadas a afirmar, apesar de todos os impedimentos, o seu valor em contextos laborais hostis. «Este é o meu legado», declarou. Um legado que agora a Lua, lá do alto, contempla e ilumina.


 

Gabriele Nicolò
In L'Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 26.02.2020 | Atualizado em 09.10.2023

 

 
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