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Jornal do Vaticano destaca livro de D. José Tolentino Mendonça, “Elogio da sede”

A edição de hoje do jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano”, dá destaque ao livro “Elogio da sede”, que reúne as meditações propostas pelo arcebispo D. José Tolentino Mendonça ao papa Francisco e à Cúria da Santa Sé no retiro da Quaresma deste ano.

Publicado pela editora italiana “Vita e pensiero”, “Elogio della sete”, obra «particularmente estimulante para este tempo estival», caracteriza-se pelo «estilo inconfundível» do autor, «dinâmico, veloz, poético», que «penetra a fundo, mas com ligeireza, nos recessos mais recônditos da alma».

A autora do texto, Antonella Lumini, evoca a importância da água, sublinhada na mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, divulgada hoje, 1 de setembro, precisamente a data em que é assinalado pelas Igrejas católica e ortodoxa.

«Cada dia coloca em risco a vida de milhões de pobres que habitam as periferias do mundo, tornando-se espelho da insana cultura do descarte que pede urgente “conversão ao essencial”», escreve.

Menos explícita, porque «mais recôndita e subterrânea», é a «sede» associada à «aridez da alma»: «Na maior parte dos casos nem sequer a percebemos, sufocando-a através de estratégias infinitas para evitar todo o contacto com esse fogo obscuro que se eleva do vazio interior».



A sede, escreve a autora, «pede para ser escutada como grito de libertação e de salvação», «descobrir-se mendigo, sempre na ausência de qualquer coisa de irrenunciável que escapa, exortando a ir além, ajuda a superar toda a forma de possessão para pessoas e coisas. Afasta da ganância do poder, cura das distorções psíquicas, orienta para o desejo puro»



«E eis que, com a mestria literária e a finura espiritual que o distinguem, identificando passos bíblicos específicos, citando poetas, escritores, filósofos e místicos, Tolentino expõe-a à vista de modo leve, sustentável e terapêutico», assinala o texto.

Para a redatora, é preciso «antes de tudo sair do emaranhado da rotina, deixar-se surpreender: “A sede é uma dor que descobrimos a pouco e pouco dentro de nós, por trás das nossas habituais narrações defensivas, asséticas ou idealizadas; é uma dor antiga"».

«A aridez da alma», continua Antonella Lumini, é «sintoma de distanciamento da fonte, de alienação que erradica do sentido real da vida, estimulando desejos e necessidades induzidas que, no entanto, não conseguem preencher a distância que nos separa de nós mesmos», atirando o ser humano, refere D. Tolentino Mendonça, para «os braços do consumismo».

A experiência da sede apela «a uma maturidade de fé que torne possível uma relação autêntica consigo próprio e lance as bases de uma relação genuína com Deus», anota o artigo, depois de citar o autor: «Precisamos de olhar-nos na nossa inteireza, não a temer, não a negar, mas abraçá-la com maturidade, lucidez e confiança porque é assim que Deus nos olha».

O amadurecimento interior deve conduzir a «uma fé que deixe de ser dominada pelo medo infantil do juízo que impõe o escondimento de si próprio, de Deus, da verdade, da luz», paisagens que compõem um «tenebroso território de mentiras».



Se é verdade que «entre aquilo a que somos chamados e a consciência das nossas forças há um intervalo que nos faz tremer, uma distância que nos silencia», como assinala D. Tolentino Mendonça, é «precisamente esse espaço intransponível, gerando sede, que permite contínuas aproximações, sem nunca haver fechamento



Neste sentido, prossegue o texto, «o caminho de fé requer transformação, crescimento humano, que não acontece “se se impermeabiliza a vida na sua crosta, mantendo unicamente uma gestão funcional e eficaz da superfície”».

«A sede que se oculta no coração é por isso sede de infinito, exigência de imersão nessa realidade íntima», e por isso, enquanto desejo ilimitado, é «uma sede infinita, insaciável».

Para Antonella Lumini, essa é uma sede que «pede para ser escutada como grito de libertação e de salvação», «descobrir-se mendigo, sempre na ausência de qualquer coisa de irrenunciável que escapa, exorta a ir além, ajuda a superar toda a forma de possessão para pessoas e coisas. Afasta da ganância do poder, cura das distorções psíquicas, orienta para o desejo puro».

«O que verdadeiramente surpreende é a contínua subversão com que Tolentino nos convida a mudar de perspetiva, solicitando-nos a ver como, de facto, a nossa sede não é mais que a sede de Jesus que nos procura, como o nosso reconhecermo-nos mendigos mais não é que despertar para o amor misericordioso de Deus que continuamente nos provoca, fazendo-se Ele próprio mendigo, permanecendo à espera de um nosso sinal de disponibilidade, de uma resposta», observa a autora.

D. Tolentino Mendonça acentua no livro publicado em Portugal pela Quetzal que «é urgente redescobrir a bem-aventurança da sede», pois «a coisa pior para um crente é estar saciado de Deus», na convicção, acrescenta a autora, de que «a experiência de fé nunca pode saciar a sede, mas, ao contrário, amplifica-a, fazendo crescer constantemente o desejo de Deus».

E se é verdade que «entre aquilo a que somos chamados e a consciência das nossas forças há um intervalo que nos faz tremer, uma distância que nos silencia», como assinala o prelado, é «precisamente esse espaço intransponível, gerando sede, que permite contínuas aproximações, sem nunca haver fechamento. Desapossa com átimos inesperados de bem-aventurança que disseminam o tempo da eternidade», conclui a autora.

O artigo no jornal do Vaticano é publicado no mesmo dia em que D. Tolentino Mendonça assumiu as funções de bibliotecário e arquivista da Santa Sé.


 

Rui Jorge Martins
Fonte: L'Osservatore Romano
Imagem: D.R.
Publicado em 01.09.2018 | Atualizado em 09.10.2023

 

 

 
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