A madre Sinclética disse: «Para aqueles que se aproximam de Deus, no início há luta e grande fadiga, mas depois alegria indizível».
Se há um tempo para a aproximação a Deus, é a Quaresma. Por vezes, porém, vemo-la mais como um tempo algo triste, em que padecemos a penitência, mais do que a encarar como uma oportunidade de voltar a ter a nossa vida na mão, dirigindo-a para o único Ponto que a pode iluminar, torná-la visível e dar-lhe um sentido.
Se, por exemplo, olharmos só para as restrições deste período histórico que estamos a viver, apenas emergem a fadiga e o desespero, mas se o virmos como oportunidade a viver, as coisas mudam.
Tudo, ao início, é «luta e fadiga», lágrimas e provações, também e sobretudo quando nos «aproximamos de Deus», mas se perseverarmos no caminho, tudo adquire um valor novo, e a fadiga transforma-se em «alegria indizível».
A consciência do nosso pecado, o desejo de ressurgir, o erguer o olhar e não ver um Juiz inflexível, mas um Pai misericordioso, transformam a nossa existência. Porque tudo está destinado à alegria, e já aqui, neste nosso caminhar incerto da vida.
«Aproximar-se de Deus» requer renúncia, mudança de perspetivas, adesão a valores que parecem atualmente desusados. O jejum, a oração, a ascese – de que vivia esta monja do século V – não nos reprimem, mas dilatam-nos. Não nos debilitam, mas curam-nos. Não nos oprimem, mas libertam-nos.
Uma liberdade que não é fazer e dizer tudo aquilo que queremos, mas é despojar-se de tudo para abrir-se aos outros e abandonar-se ao Outro. Para se reencontrar verdadeiramente, no Amor. Numa alegria que não é dada para se ficar com ela, mas para deixar ir. Que não é dada pelo possuir, mas pelo renunciar.
Quem se apega às coisas, torna-se aprisionado por elas. «Se ganhamos muito, desejamos mais», diz Sinclética, e quando não se pode ter o que se espera, desespera-se. Mas quem é livre das coisas e de si mesmo, reencontra-se nos outros e, sobretudo, «aproxima-se de Deus» e reencontra-se nele, única fonte de alegria indizível.