Este tempo foge da responsabilidade. Vivemos um contínuo alijar de culpas entre pais e filhos, entre marido e mulher, entre políticos e cidadãos, sem que ninguém alguma vez parta dos seus erros. Sem responsabilidade, não se cresce nem como pessoa, nem como sociedade.
«Onde está Abel, teu irmão?» «Serei eu, porventura, o guardião do meu irmão?» A responsabilidade implica uma promessa, um compromisso, um assumir um peso que obriga a uma resposta. O puro existir do outro pede-me para não fugir, mas antes ser para ele resposta.
É a vida de cada dia que me pede respostas, são o sangue e as lágrimas dos seres humanos que me pedem respostas.
Responsabilidade é a de Madre Teresa. Quando um dia um jornalista lhe pergunta: «Madre, o que é que não está bem neste mundo?», ela responder: «Aquilo que não está bem somos eu e o senhor».
O que falta? O que é que não está bem? Não está bem o nosso fechar os olhos para não os sentir arder pelas lágrimas de quem chora, o acomodarmo-nos a cada erro para não nos incomodarmos.
Não está bem a atitude de comodismo, o pensar que o não assumir responsabilidades é a melhor maneira para nunca nos sentirmos culpados e para nos eximir do tormento de escolher.
A responsabilidade pede-nos, ao contrário, que estejamos próximos de nós, que vivamos dentro da realidade sem fugir, que não procuremos álibis, que não descarreguemos as culpas.
«Esta terra é santa e eu não o sabia» (Génesis 28,16).
A responsabilidade é a atenção a onde pões os pés, a levar um pouco mais ao alto de nós aquilo que vive.
A responsabilidade requer a coragem de romper o cerco da desordem que há em mim, de me libertar de modas estéreis de uma vida banal, de reencontrar a dignidade de lutar contra a minha instintividade.
A responsabilidade pede-me para caminhar contra corrente quando é preciso, e de quebrar os laços quando chega o momento.
Devo sentir a responsabilidade de quantas pessoas faço sofrer por causa do meu rancor e do meu ódio, que não dão à luz mais do que amargura e melancolia.
A responsabilidade faz-se amor quando, alcançado o domínio de nós próprios, conseguimos ficar de pé nas contrariedades, e quando conseguimos restituir ao outro o governo de si mesmo sem nos aproveitarmos da sua fraqueza.