Prémio de Cultura Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes
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Francisco Sarsfield Cabral, Prémio Árvore da Vida 2014: «A economia é cada vez menos matemática e mais psicológica»

Reagi à notícia do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes com enorme surpresa. Nunca me passou pela cabeça. Quando o padre Tolentino me deu a notícia, fiquei algo atrapalhado e perguntei-me: «Mas o que é que eu fiz?». Fiquei completamente espantado. Podia receber um prémio de jornalismo, como já aconteceu, mas este, confesso que nunca pensei. Mas fiquei contente, claro.

Eu sou, basicamente, um jornalista, e um jornalista sobretudo de questões económicas e europeias, mas também gosto de ler textos de filosofia e teologia, embora não seja especialista em coisa nenhuma. Eu gostava de filosofia, mas era uma área que não tinha saídas profissionais visíveis. Escolhi o curso de direito, de que gostei por ajudar a pensar, mas nunca fiz nada de jurídico na minha vida profissional.

No fim do curso comecei a interessar-me por questões económicas. Fiz algumas leituras, mas se me apresentam um artigo com equações, eu não percebo nada. Não sou economista, mas tento perceber, e tento explicar, ser pedagógico, falar de maneira que as pessoas entendam. Acho graça à economia, embora não possa competir com matemáticos, embora a economia esteja cada vez menos matemática e cada vez mais psicológica, comportamental.

Exerço a profissão de jornalista, oficialmente, desde 1970, embora com interrupções: estive no Gabinete do Ministério dos Negócios Estrangeiros, também no Gabinete do Primeiro-ministro durante quatro anos, e depois dirigi o gabinete da Representação da Comissão Europeia em Portugal durante cinco anos; não podia ficar mais tempo, a não ser que fosse para Bruxelas, o que eu não queria.

Comecei a fazer jornalismo, não formalmente, no final dos anos 50, na revista Flama, dirigida por um frade franciscano, e onde também colaboravam Pedro Tamen, como diretor adjunto, e Nuno Bragança, geração que conheci quando vim para Lisboa. Tinha então uma coluna chamada "Quem vê tv".

A minha entrada no jornalismo económico começou em 1963, numa página quinzenal no Diário de Notícias. Durante alguns anos fui organizador dessa secção.

Em julho de 1996, fui contactado pelo engenheiro Magalhães Crespo [presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença], com quem já tinha colaborado. Estou na Renascença há 18 anos.

Na relação da Igreja com a comunicação social houve casos de sucesso, como a Renascença, e casos de insucesso, como a televisão da Igreja; houve jornais que fecharam, como o Novidades e o Nova Terra.

Como jornalista, lamento dizê-lo, mas a profissão caiu muito, não só em Portugal mas também em todo o mundo. Além da crise económica geral, há uma crise específica na comunicação social, por causa da queda da publicidade, em especial nos jornais em papel, que não se sabe se vão existir daqui a 15 ou 20 anos.

Assistiu-se a uma redução de efetivos, como na Renascença, onde houve rescisões voluntárias, sem despedimentos. As redações estão hoje muito diminuídas. O Diário Popular, onde trabalhei, era um jornal que saía à tarde; atualmente não há nenhum jornal vespertino: há vários canais de notícias, as rádios passam noticiário às horas e às meias horas, os sites dos médias estão sempre disponíveis... Por isso há uma grande pressão para se publicar rapidamente, pelo que o ambiente não é muito famoso.

O jornalismo económico não se pode ligar a interesses dessa área, tem de ser independente. Por vezes há certo jornalismo económico que coloca dúvidas, ao parecer que favorece esta ou aquela personalidade ou instituição; até no comentário de Bolsa, quando se avalia positiva ou negativamente o comportamento de determinadas ações, se pode prejudicar ou favorecer uma empresa. Por isso é preciso deontologia acrescida.

Também considero que o jornalismo, infelizmente, está muito sensacionalista. Há pouca análise e vai-se muito para o fait-divers. Neste último aspeto, o jornalismo televisivo é paradigmático. Ainda há momentos estava a ver uma reportagem sobre o jogo entre o Benfica e o Sevilha [esta conversa decorreu horas antes da partida de futebol entre as duas equipas, para a final da Liga Europa]: fazem-se umas perguntas ao adeptos, «o que acha?», mas enquanto valor noticioso é zero. Alguns minutos, talvez, mas está-se nisto durante horas.

Na relação da Igreja com a cultura, sublinho a revista "Brotéria", que teve imenso peso cultural em Portugal, por exemplo com o P.  Manuel Antunes, que tenho a honra de receber um prémio com o nome dele, entre outros críticos no domínio da literatura. E tem a virtude de continuar ao longo de mais de um século, quando há revistas nesse campo que acabam ao fim de alguns anos, ou até meses.

Acho que o P. Tolentino é uma ponte importantíssima para a cultura, enquanto poeta e detentor de grande profundidade teológica. Também D. José Policarpo teve diálogos com os não crentes, como o Eduardo Prado Coelho. E Joseph Ratzinger, enquanto cardeal e papa, teve igualmente vários diálogos com ateus e agnósticos. E o papa Francisco também quer uma Igreja voltada para fora, que dialogue com a cultura.

Francisco Sarsfield Cabral, que a Igreja católica em Portugal distinguiu com o Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes (cf. "Artigos relacionados"), nasceu no Porto a 6 de maio de 1939. Completou, há dias, 75 anos.

Casou-se a 14 de outubro de 1963. Tem três filhos e 10 netos. A missa de ação de graças pelas bodas de ouro do matrimónio, celebrada em 2013, foi presidida pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

 

Depoimento a partir de entrevista de Rui Jorge Martins
© SNPC | 15.05.14

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Foto: D.R.

 

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