Nunca se sentiu com aptidão para o tiro com arco? Não faz mal, lance antes orações jaculatórias, apontadas mas para o Céu, e seguramente acertará em cheio no alvo. Arqueiros da fé, os Padres da Igreja aconselhavam vivamente estas breves e ardentes orações que se dardejam (do latim “jaculare”, lançar um dardo) para Deus em todo o tempo e em todo o lugar, para permanecer unido a Ele.
«Flechas admiráveis, a vossa extremidade é de um ouro puríssimo e bem afiado, e feris o coração de Deus tão docemente, que seguramente o atingis», extasiava-se S. João Cassiano. A tradição cristã está repleta destas preces, mas cada pessoa, de acordo com a sua sensibilidade e realidade, pode formular as suas. Eis algumas sugestões.
Orações curtas
Algumas palavras, apenas. «Senhor, socorrei-me!», «Meu Deus e meu tudo». «Pouco e bom», resumia S. Francisco de Sales. O inverso dos pagãos, que imaginam que serão atendidos à força de recorrer a muitas palavras, como advertiu Jesus.
Esta brevidade é um remédio fácil, eficaz e poderoso para os espíritos dispersos ou açambarcados pela multiplicidade de preocupações. Podem ser proferidas quer durante uma reunião de trabalho, no meio de uma conversa aborrecida ou à espera do transporte. «Este exercício pode entrelaçar-se em todos os nossos assuntos e ocupações, nem nada os incomodar», sugeria S. Francisco de Sales.
Orações fervorosas
Devem ser fervorosas para se tornar orações de fogo. «Ó Santíssima Trindade!», «Meu Deus, eu me dou todo a ti/a võs»). Mais que flechas, «são lanças inflamadas que os soldados de Cristo, estimulados pelo veemente ardor dos seus desejos, dirigem sem cessar para o Céu» (S. Lourenço Justiniano). Este ardor deve ser alimentado. Como? Tendo sempre fome e sede de Deus. Falta-lhe combustível? Escute Jacques-Bénigne Bossuet: «Ó Jesus Cristo! Ó Jesus Cristo! Ó Jesus Cristo! O que há de maior que este grito de amor?».
Orações ricas de sentido
Devem ser substanciais. Poucas palavras, mas não escolhidas descuidadamente. «Sagrado Coração de Jesus, creio no teu/vosso amor por mim». Ou: «Jesus, Maria, José». As orações jaculatórias não são um slogan publicitário. Elas são expressão viva do coração e da inteligência. Para lhes conferir substância, extraia-as dos Evangelhos – a começar pelo Pai-nosso e as suas sete fórmulas “jaculatórias” – ou dos Salmos: duas fontes vivas e seguras.
Orações para converter o coração
Devem ser proferidas com o propósito de converter o nosso coração em vista da nossa união com Deus. «Jesus, doce e humilde de coração, torna/tornai o meu coração semelhante ao teu/vosso», «Coração Eucarístico de Jesus, inflama/inflamai os nossos corações de amor por ti/vós».
Sem Deus nada é possível. Quando lhe arremessamos uma flecha, «Ele atira cem de volta à sua criatura», afirmava Richilieu. «As suas flechas são todas de amor», dizia Santo Ambrósio. Não tenhamos medo de bradar a Deus: «Eis o meu coração, rasga-o/rasgai-o, queima-o/queimai-o com as tuas/vossas flechas de amor».
Aprendidas de cor ou acabadas de aflorar aos lábios, profira aquelas que o amor sugerir. Quando se abre uma porta, quando se faz arrancar o automóvel, quando se pega no telemóvel… cada gesto é uma ocasião de oração. Em cada oração é como um fio estendido para Deus: para que Ele nos atraia a si e que nós o atraíamos a nós.