«O apostolado intelectual» dos Dominicanos, as suas «escolas e institutos de ensino superior, o cultivo das ciências sagradas e a sua presença no mundo da cultura estimularam o encontro entre a fé e a razão», sublinhou o papa em carta enviada ao superior da Ordem, por ocasião do oitavo centenário da morte do seu fundador, S. Domingos de Gusmão, na qual também destaca a sua simplicidade e intuições renovadoras que a Igreja pode hoje retomar.
Francisco recorda que «ao enviar os seus primeiros frades para universidades emergentes na Europa, Domingos reconheceu a importância vital de proporcionar aos futuros pregadores uma formação teológica sólida baseada na Sagrada Escritura, respeitadora das questões colocadas pela razão e preparada para um diálogo disciplinado e respeitoso».
O «zelo» de S. Domingos «pela salvação das almas» motivou-o a «formar um corpo de pregadores comprometidos, cujo amor à Página Sagrada e à integridade da vida poderia iluminar as mentes e aquecer os corações com a verdade vivificante da Palavra divina», assinalou o papa na missiva publicada esta segunda-feira.
Mas não só de estudo se constitui o carisma da Ordem dos Pregadores: «No espírito de toda a verdadeira reforma, [Domingos] buscou um regresso à pobreza e à simplicidade da comunidade cristã primitiva, reunida em torno aos apóstolos e fiel ao seu ensino», e foi por isso que não hesitou em prescindir dos seus «preciosos livros» para financiar alimentação aos pobres, atingidos por severa carestia.
Outra dimensão realçada pelo papa foi o facto de o fundador ter exprimido o desejo de não ser tratado de maneira reverencial pelos frades, mas por «irmão Domingos», expressão de um «ideal de fraternidade» que se repercutiu numa «forma de governo inclusiva, em que todos participavam no processo de discernimento e de tomada de decisões, de acordo com os seus respetivos papéis e autoridade».
«Este processo “sinodal” permitiu à Ordem adaptar a sua vida e missão a contextos históricos mutáveis, mantendo a comunhão fraterna. O testemunho da fraternidade evangélica, como testemunho profético do plano último de Deus em Cristo para a reconciliação e unidade de toda a família humana, continua a ser um elemento fundamental do carisma dominicano e um pilar do esforço da Ordem para promover a renovação da vida cristã e a difusão do Evangelho no nosso próprio tempo», aponta a carta.
O carisma dominicano esteve na base de múltiplas expressões caritativas, intelectuais e artísticas que envolveram não só religiosos como leigos, desde os escritos de Santa Catarina de Sena, às pinturas do Bem-Aventurado Fra Angelico, passando pelo amor aos carenciados com Santa Rosa de Lima, e a compaixão de S. Martinho de Porres, «que levou a alegria do Evangelho às periferias».
Na atualidade a vida de S. Domingos «continua a inspirar o trabalho de artistas, estudiosos, professores e comunicadores», depois de ao longo dos séculos muitos terem dado a vida, num «martírio que foi ele próprio uma poderosa forma de pregação».
Francisco conta com os Dominicanos para se inserirem no desafio que a «inalienável dignidade humana de filhos de Deus» afirmada no Evangelho coloca à Igreja: «Fortalecer os laços de amizade social, superar as estruturas económicas e políticas injustas, e trabalhar pelo desenvolvimento integral» de cada pessoa.