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«Muitos homens e mulheres encontraram nas entrelinhas da vida diária a suspeita de uma presença maior. Como se fossem habitados, assaltados ou visitados por Deus, por esta vitalidade e força que os anima, mesmo que, por vezes, sem mimo. E, assim, com paciência e insistência, anotaram e anotavam aquilo que lhes sucedia por meio das suas ocupações temporais e fugazes», escreve Nuno Branco, sj, no preâmbulo do livro “Diário gráfico – A experiência de Deus na vida diária”, recentemente lançado pela editora Frente e Verso.
«Através da expressão gráfica, o Diário Gráfico transporta para o quotidiano o desejo de aprofundar a consciência espiritual da vida humana, convidando o leitor a reconhecer também, através das suas páginas, a presença inaugural e misteriosa de Deus na vida diária», refere a nota de apresentação do volume, composto por 33 reflexões mais a conclusão.
No «palco» - “diário” - em que expõe a vida, não «para ser exibida, desfilada ou desfiada, mas revelada numa beleza menos epidérmica, abrem-se duas cortinas, acentua o padre jesuíta. A preta «cobre os bastidores, os ensaios e as representações, as repetições e as reproduções, os figurantes e os figurinos, os corredores e as dores, as maquilhagens e as maquinarias». A vermelha abre-se para «o público e a bilheteira. Os bilhetes e as entradas. A expetativa e as aspirações. O desejo maior, grande e grandioso, de apreciar a vida, por vezes impondo à vida um preço que vale pelo apreço da vida enquanto dom».
Nuno Branco, sj, considera que muitos «homens e mulheres de fé e do mundo da cultura (mesmo não sendo crentes) encontravam, na desesperante cortina preta», o «desejo de falar (sob diferentes géneros: o diário, a biografia ou as memórias) de uma outra cortina bem maior: aquela que abre para o estremecimento e o espanto diante da vida».
O texto de abertura do religioso termina com um conselho que é também desafio para o leitor: «Aprender a fazer bom uso do diário, enquanto meio inigualável de tomada de consciência espiritual da vida humana, ajuda-nos a procurar e a reconhecer esta presença inaugural e misteriosa de Deus na vida diária», e pode favorecer «uma experiência de verdadeiro encontro».
Nascido em 1977, o autor licenciou-se em Arquitetura e, depois de entrar na Companhia de Jesus, especializou-se em Espiritualidade e Arte. Propõe, desde 2017, os “Exercícios Espirituais em Diários Gráficos”, aliando arte e espiritualidade do fundador dos Jesuítas, Santo Inácio de Loyola.