Construir a unidade da Europa valorizando a diversidade contra toda a forma de intolerância: foi este o tema de um encontro promovido em junho pela Conferência das Igrejas Europeias.
A iniciativa, que se realizou pela internet, foi um contributo para favorecer a unidade e questionar as formas de populismo que caracterizam muitas instâncias políticas, num tempo em que o Velho Continente tem de confrontar-se com as consequências da pandemia, com diferenças sociais e económicas cada vez mais acentuadas.
«A Europa desafiada pelo populismo: as Igrejas “sal da terra”? Como contribuir para viver juntos pacificamente na diversidade”, título do encontro, sublinha que os cristãos são chamados a dar respostas para definir uma posição comum para deter o populismo em nome do Evangelho.
Christel Lamère Ngnambi, cientista político e coautor do livro “Is God a Populist?”, descreveu o populismo como uma narrativa ou mecanismo em que a desconfiança existente na sociedade é usada sistematicamente.
O investigador desafiou a ideia de combate a um «inimigo maligno e a afirmação de que apenas os líderes populistas têm a solução», e criticou a estratégia por eles usada de ampliarem a polarização, especialmente entre o povo e a elite.
Para a Conferência das Igrejas Europeias trata-se de especificar uma ação ecuménica capaz de envolver as múltiplas tradições na sanação das novas feridas e divisões originadas por aquelas ideologias.
Na Europa, também com o contributo das soluções propostas pelo populismo, está a alimentar-se um clima de contraposição e de recontro que não ajuda a sociedade a viver em harmonia.
Por isso, a fé deve ser protagonista na construção de um futuro que saiba extrair outras perspetivas da experiência da pandemia, e os cristãos são chamados a redescobrir a sua vocação de ser «sal da terra».
Estas palavras do Evangelho segundo Mateus são apontadas como ponto departida para a ação ecuménica contra toda a forma de violência, ao mesmo tempo que se referem às comuns raízes cristãs do continente.
Do debate emergiram percursos de aprofundamento e testemunho sobre como os cristãos podem viver na Europa: falou-se do papel das Igrejas numa sociedade plural, na qual convivem diferentes religiões, em modalidades absolutamente novas na história do continente.
Foi igualmente destacada a necessidade de oferecer ocasiões com as quais reforçar o sentido de comunidade a partir de uma releitura das divisões que continuam a impedir aos cristãos viver a unidade plena e visível da Igreja.
A experiência do caminho ecuménico pode ser um elemento fundamental na contribuição para a construção de uma Europa na qual – não só em oposição ao populismo em todas as suas formas, ao mesmo tempo que se demonstram os seus limites na leitura do presente e do futuro – os cristãos podem promover uma cultura do acolhimento, de maneira a abrir um novo tempo de partilha à luz da Palavra de Deus.