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Bruce Springsteen é um «profeta bíblico»: O concerto do "Boss" narrado por José Tolentino Mendonça

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Bruce Springsteen é um «profeta bíblico»: O concerto do "Boss" narrado por José Tolentino Mendonça

«A noite pertence a Bruce Springsteen. E o concerto desta quinta-feira pode bem ser contado como essa poderosa revelação»: é com estas palavras cheias de acordes que José Tolentino Mendonça descreve o concerto do cantor e compositor norte-americano que atuou em Lisboa, no primeiro dia do festival "Rock in Rio".

Em texto publicado hoje na página do jornal Expresso, o padre e poeta escreve que «por duas horas e três quartos, unindo canções quase sem pausas, ao jeito do fumador que acende compulsivamente os cigarros uns nos outros, e está ali ocupado unicamente com a sua obsessão, Bruce foi ele próprio» para as 67 mil pessoas que, segundo a organização, assistiram ao concerto.

«Ouvíamo-lo apenas a arrancar para os músicos o sinal "um, dois, três" e a deixar-se ir: a guitarra, a harmónica, a garganta recôndita e o resto, claro. Os braços levantados, os saltos, as palmas, a noite transformada em paisagem sonora, o microfone partilhado com o público, o avanço pela plataforma para ser tocado por um mar de mãos, para propagar-se também fisicamente, mostrando que não podia estar nem mais entregue, nem mais próximo», refere o vice-reitor da Universidade Católica.

Para Tolentino Mendonça, Bruce Springsteen «é um cowboy do asfalto. Um profeta bíblico. Um aborígene que vem até nós descendo o rio na sua jangada. Um sonhador insone. Um soldado cheio de ferimentos, a maior parte deles incuráveis, dos combates do amor. Um vigia da alegria e dos seus abismos. Um narrador para a solidão dos homens e para a invencível esperança. Ele é tudo isso. E também uma central alquímica de altíssima voltagem, uma rebentação de vida que não resigna, um incrível fenómeno estelar em expansão».

«A noite é um veículo inventado para que o contrabando dos sonhos se dê. Oiçam-no a ele. A noite fala um a língua de veludo e de fogo. Oiçam-no. A noite é uma dança e um duelo. A noite deflagra com a sua matéria brilhante. Oiçam-no ainda. A noite é o espinho cravado na carne e, ao mesmo tempo, a rosa que flutua pelos séculos», declara Tolentino Mendonça, para quem «Bruce Springsteen, o patrão da noite, sabe do que fala».

O primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura já tinha dedicado um artigo ao cantor na edição do último sábado do semanário Expresso, "A teologia de Bruce Springsteen", título inspirado no «extenso repositório de ensaios teológicos» em publicações de referência.

O «imaginário bíblico» que Bruce recebeu da educação familiar e da escola católica ruiu para ser reencontrado e «reconfigurado mais tarde, já com uma dicção ardentemente singular, mas regressando às referências religiosas de origem» para exprimir o ser humano.

Viscerais e ardentes são as composições de Springsteen, que atravessam e rasgam gerações: «Entalados no quotidiano urbano mais cru ou perdidos nos bosques, entre a infâmia, o sonho e a raiva, os protagonistas das canções de Bruce ganem a fome de resgate, a espera por aquele que os poderá livrar do mal. Ao mesmo tempo que declamam as suas (as nossas) minúsculas histórias de amor como monumentais epopeias de graça e redenção».

«Não interessa tanto catalogar religiosamente o universo do "Boss" quanto sentir nele a inclassificável trepidação de Deus. Lembro-me de várias passagens, onde a inquietude desenha a linha de fogo de uma salvação desejada, mesmo se não atingida», apontou Tolentino Mendonça, mencionando os álbuns "Tunnel of love", "The river" e "Nebraska", antes de evocar as convicções e dúvidas de fé de Springsteen: «Escrever o poema de Deus para apagar o poema de Deus. Apagar o poema de Deus para escrever o poema de Deus».

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 20.05.2016 | Atualizado em 28.04.2023

 

 
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A noite é um veículo inventado para que o contrabando dos sonhos se dê. Oiçam-no a ele. A noite fala um a língua de veludo e de fogo. Oiçam-no. A noite é uma dança e um duelo. A noite deflagra com a sua matéria brilhante. Oiçam-no ainda. A noite é o espinho cravado na carne e, ao mesmo tempo, a rosa que flutua pelos séculos
Entalados no quotidiano urbano mais cru ou perdidos nos bosques, entre a infâmia, o sonho e a raiva, os protagonistas das canções de Bruce ganem a fome de resgate, a espera por aquele que os poderá livrar do mal
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