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Breve vocabulário de hebraico: “Berît”

Apresentamos uma espécie de pequeno vocabulário de palavras hebraicas que são como a espinha dorsal dos 5 750 termos que compõem todo o léxico do Antigo Testamento.

Os cinquenta termos que os leitores corajosos aprenderão na sua transcrição nos nossos caracteres, e nas explicações que os acompanharão, permitir-lhes-ão ficar mais próximos do próprio Jesus: Ele conhecia-os bem, escutava-os e repetia-os a cada sábado e nas festas judaicas na sinagoga ou no templo de Jerusalém.

 

“Berît”: aliança, compromisso, pacto

O primeiro vocábulo que escolhemos – e que no original hebraico se escreve e lê da direita para a esquerda, como o árabe – é “berît”, termo feminino que ressoa 287 vezes na Bíblia, e que habitualmente é exprimido por “aliança”. Digamos desde já que o seu significado é, todavia, mais amplo, e move-se ao longo de duas direções.

Por um lado, é um paco entre dois sujeitos: no nosso caso, entre Deus e o povo. A Abraão, o Senhor diz: «Porei a minha aliança (“berît”) entre mim e ti» (Génesis 17,2). No Sinai, a “berît” é selada com o sangue de um sacrifício, derramado sobre o altar que representa Deus, e aspergido sobre povo; esta é a declaração de Moisés: «Eis o sangue da aliança (“berît”) que o Senhor concluiu convosco» (Êxodo 24,8).

Por outro lado, no entanto, este encontro entre Deus e a humanidade é querido primeiro pelo Senhor, que decide livremente unir-se à sua criatura num ligame de solidariedade: é, portanto, antes de tudo, um “compromisso” seu, uma “promessa”, e é por isso que se tornou comum falar de “testamento”, sendo aquele um dom de amor. A Bíblia, porém, ensina-nos que a infidelidade de Israel, o povo destinatário da eleição-aliança, infringiu esse ligame.

Eis, então, a opção do Senhor para procurar ter junto a si o seu povo. É o que explica o profeta Jeremias, seguido por Ezequiel, quando fala de «nova “berît”»: esta não será codificada em tábuas oficiais da lei, ou seja, o protocolo formal de aliança a observar, mas será escrita no coração das pessoas; leia-se o passo de Jeremias 31,31-33, texto que será citado integralmente no Novo Testamento pela Carta aos Hebreus (8,8-12). A ela se referirá Jesus na última ceia, quando sobre a taça de vinho disser: «Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós» (Lucas 22,20).

A “berît”-aliança como Senhor é, portanto, graça divina e compromisso humano. Muito mais se poderia dizer sobre este tema: na minha biblioteca pessoal tenho pelo menos uma vintena de volumes em várias línguas que o tratam.

Concluo com uma curiosidade: em hebraico, «estipular a aliança» diz-se “karat berît”, literalmente «cortar a aliança». Para compreender o seu sentido, convidamos os leitores a seguir a narrativa do pacto entre Abraão e o Senhor, em Génesis 15,7-21. É uma cena noturna emocionante: o patriarca toma alguns animais, «divide-os em dois e coloca cada metade em frente à outra». Ele devia passar pelo meio, para um rito de automaldição, que poderemos exprimir assim: «Aconteça a mim como a estes animais, se violar o pacto com Deus». Mas será apenas um fogo, símbolo do Senhor, a atravessar aquelas carnes divididas: a aliança é, como se dizia, antes de tudo um compromisso divino. É Ele o único aliado sempre fiel ao pacto.


 

Card. Gianfranco Ravasi
Biblista, presidente do Conselho Pontifício da Cultura
In Famiglia Cristiana
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 27.01.2021 | Atualizado em 07.10.2023

 

 
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