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Arte e teologia contemporâneas por Hans Küng

A cena artística contemporânea é marcada pela “provocação”. E o teólogo, que tem a dizer sobre isto? A resposta interessa se é proposta por um estudioso do calibre de Hans Küng, contemporâneo do papa, como ele presente no Concílio Vaticano II (1962-1965), para depois tomar, como é conhecido, diferentes rumos de investigação.

Como Joseph Ratzinger, Hans Küng é um conhecedor da música, clássica sobretudo. Na primeira parte do seu livro “Musica e religione”, tradução italiana publicada em 2012 pela editora Queriniana, analiza a obra de três grandes virtuosos: Mozart, Wagner e Bruckner.

No segundo capítulo, mais interessante, entra como teólogo no debate sobre as tendências da arte contemporânea e alarga o olhar passando entre música, pintura e vanguarda. No seu entender a «crise da arte» é posicionada no fundo da crise geral de valores e, portanto, do sentido da vida, dado que através da arte o ser humano deixou de mergulhar no divino e de viajar num horizonte teísta mas sobre um horizonte do niilismo. Isto é o que dizem os críticos de arte contemporânea.

Todavia o teólogo Küng pensa que o artista quer sempre afirmar qualquer coisa, quer sempre transmitir um significado. E por isso nenhuma instituição política ou cultural, e muito menos a Igreja, pode emitir um juízo moral negativo. «O que se apresenta como absurdo pode ter um sentido íntimo oculto», argumenta.

E acrescenta: mesmo por trás de uma colagem dadaísta ou neodadaísta de retalhos privados de sentido pode esconder-se um sentido: o protesto, que desmascara de maneira irónica, apalhaçada, satírica, o absurdo da guerra, o racionalismo da era da técnica, a falsidade da cultura burguesa, os falsos deuses».

Segundo esta visão o artista e a arte abrem-se sempre ao futuro e à dimensão religiosa. Porque se projeta o ser humano no mistério da sua existência e da sua relação com o cosmos.

Falando de arte em sentido global, Hans Küng adverte para as consequências do retorno ao passado e a um «historicismo ideológico» espalhado nos círculos conservadores (também católicos), segundo os quais a verdadeira arte (como a verdadeira teologia) se identificam com uma época histórica precisa «como se uma determinada arte (ou teologia) do passado fossem a priori qualitativamente melhores» e «como se o antigo devesse constituir também o estímulo, o modelo por excelência, como se em vez de evocar se devesse imitar».

Ao mesmo tempo o teólogo suíço nascido em 1928 alerta para as implicações de se enveredar facilmente no movimento contrário, caindo no «futurismo ideológico», isto é, a ideia pré-concebida que toda a mudança ou revolução pode ser «por princípio uma grande renovação».

A arte, conclui Hans Küng, é um símbolo, um modo de expressão que «pode despertar a nossa paixão pela liberdade e veracidade, a nossa fome de justiça e de amor, o nosso desejo de comunhão, de reconciliação e de paz».

E assim um tema aparentemente «neutro», a partir dos modelos musicais clássicos, transforma-se em ocasião para refletir sobre o sentido da presença da Igreja e da teologia no mundo.

 

Fabrizio Mastrofini
In Vatican Insider
© SNPC (trad.) | 15.01.13

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Foto Hans Küng

 

 

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