«No início da década de 1950, a Igreja Católica em Portugal mantinha-se distante dos contributos da Arte Moderna. Por motivos culturais, religiosos e também políticos, predominavam nas igrejas pastiches da iconografia tradicionalista e a Arte Sacra permanecia, deste modo, desatualizada.
No entanto, os novos ventos que despontavam no centro da Europa logo chegaram a Portugal, e contaram com o apoio do Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira. Desde logo pelo suporte dado em 1953 à formalização do MRAR [Movimento de Renovação da Arte Religiosa], determinante na formação de artistas e arquitetos, mas também do clero e do público em geral (…).»
Esta transfiguração marca o início de um tempo na arquitetura e na arte em torno às igrejas católicas que prossegue até aos dias de hoje, e que, nas suas múltiplas dimensões, pode agora ser conhecida com o novo livro “Arte e Igreja em Portugal. Histórias e protagonistas de diálogos recentes” (ed. Caleidoscópio).
A obra, coordenada por Maria João Neto e João Alves da Cunha, sublinha a importância do padre Manuel Mendes Atanásio na consolidação do MRAR, graças à sua preparação técnica, a par da sua «sensibilidade e dotes artísticos, que facilitavam o diálogo certo com os artistas modernos do tempo».
«À maior sensibilização do clero para a arte moderna, os artistas responderam positivamente, dando origem a um importante conjunto de obras modernas, marcadas por expressões muito diversas, nos mais variados suportes e materiais. Algumas lograram alcançar um lugar entre as mais belas obras da história da Arte Moderna e da Arte da Igreja, de todos os tempos», assinalam os coordenadores na introdução.
O volume apresenta as conferências proferidas no curso livre organizado pelo Artis - Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 2019, sessenta anos após «o ocaso do MRAR», que teve lugar na igreja do Sagrado Coração de Jesus e na capela do Rato, em Lisboa.
Depois do prefácio, assinado pelo responsável pela capela do Rato, padre António Martins, a primeira parte do livro, intitulada “História e memória”, Maria João Neto escreve “Sobre a ‘Arte Moderna e Arte da Igreja’ (1959) de Manuel Mendes Atanásio: a perspetiva do artista,
do crítico e do historiador da arte”.
“Para uma ‘Arte Moderna e Arte da Igreja’: contributos do MRAR - Movimento de Renovação da Arte Religiosa (1953-1969)” é título dado ao estudo de João Alves da Cunha, seguindo-se os testemunhos de Avelino Rodrigues (“O Movimento de Renovação da Arte Religiosa em Portugal”) e “Memórias de obras e de autores” (Manuel Costa Cabral).
A segunda parte, dedicada aos “Protagonistas recentes”, inicia-se com o texto “Arte moderna, arte na igreja” (João Norton de Matos, SJ), prosseguindo com “Arte Litúrgica: criações nas capelas de Braga” (Joaquim Félix de Carvalho).
Da parte dos curadores, Marco Daniel Duarte reflete sobre o tema “Para uma museologia «contemplativa»: o papel dos museus da Igreja na contemplação do ser humano”, enquanto Paulo Pires do Vale oferece a sua experiência no ensaio “Exposições e curadoria”.
A terminar, o volume dá voz aos artistas, com Pedro Calapez (“A composição do lugar”) e Tomás Cunha Ferreira (“Frases escritas com cacos de imagens”).
O livro vai ser lançado a 29 de novembro, na Brotéria, em Lisboa, às 18h00.