Estamos a menos de uma semana de começar um «tempo favorável» para a nossa vida espiritual. Um tempo em que, através do jejum, da oração e das obras de caridade, possamos preparar-nos para celebrar «completamente renovados a Páscoa de Cristo», como se ouve na liturgia do primeiro dia da Quaresma, a Quarta-feira de Cinzas.
É um tempo de graça! Mas será ainda possível, com a televisão, o computador, a internet, as mensagens no telemóvel, falar da Quaresma e voltar a propô-la? Com força polémica, Voltaire gritava aos padres: «A quem pregais a Quaresma? Aos ricos? Nunca a fazem! Aos pobres? Fazem-na todo o ano!».
Muitos não gostam de ouvir falar de Quaresma. É uma palavra que evoca tristeza. «Tem cara de Quaresma», ouve-se dizer. Em Portugal, os 21 bancos alimentares que distribuem todos os dias 110 toneladas de alimentos, apoiam mais de 450 mil pessoas, cerca de 4% da população. Terá ainda sentido falar a elas de jejum, de penitência, de mortificação?
Mas neste «tempo favorável» somos convidados a orientar a vida para a Páscoa. Tempo de conversão, de oração, de caridade concreta, precisamente para quem tem menos. Um itinerário de quarenta dias que não mortifica, mas estimula a escolher o “mais”. A escolher o estilo de vida mais austero. A renunciar às palavras em excesso, ao ruído, à utilização compulsiva do computador, ao envio de mensagens supérfluas.
A Quaresma regressa para despertar as nossas consciências. Para nos pedir um intenso compromisso espiritual, para reunir todas as nossas energias, com vista a uma profunda mudança da nossa maneira de pensar, de falar, de viver.
Como diziam os Padres da Igreja: quem é bem sucedido nesta operação é maior do que quem faz milagres e ressuscita um morto.